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Milícia islâmica assume o controle da capital da Somália

Avanços das milícias contra a aliança secular, apoiada por Washington, acontecem depois de semanas de sangrentos conflitos e 15 anos de anarquia na Somália

Por Agencia Estado
Atualização:

Fundamentalistas islâmicos tomaram o controle da capital da Somália, Mogadiscio, nesta segunda-feira, unificando a cidade pela primeira vez em mais de uma década e desafiando o governo secular apoiado pela ONU. Os avanços contra a aliança secular, apoiada por Washington, acontecem depois de semanas de sangrentos conflitos e 15 anos de anarquia na Somália. A milícia agora controla um raio de 100 quilômetros em torno da capital depois de confrontos com os senhores da guerra da aliança secular. "Vencemos a luta contra o inimigo do Islã, Mogadiscio está sob controle de seu povo", afirmou União das Cortes Islâmicas, o xeque Sharif Sheik Ahmed, durante uma transmissão de rádio. A Somália possui um governo provisório apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que está sediado em Baidoa, 250 quilômetros a noroeste de Mogadiscio. Entretanto, a administração não tem conseguido exercer autoridade em mais nenhum lugar do país, em parte por causa do conflito e também porque os líderes islâmicos o rejeitam por ser um governo que se baseia no Islã. Novo Afeganistão? Os fundamentalistas islâmicos apresentam-se como uma força alternativa capaz de levar ordem ao país. Da mesma forma, o Taleban construiu sua base de apoio no Afeganistão mantendo a ordem com mão de ferro depois de anos de violência generalizada em meio a um conflito entre senhores da guerra locais após a queda do governo comunista. O diretor do Centro de Advocacia de Justiça da Somália, Omar Jamal, disse que a vitória da milícia islâmica na capital é um grande ponto de mudança na história do país. "É exatamente o que aconteceu quando o Taleban assumiu o poder", disse ele, acrescentando que "os extremistas estão usando a exaustão das pessoas em relação à violência, estupros e guerra civil para ganhar apoio para um governo com base na lei islâmica". A milícia é o primeiro grupo a consolidar o controle sobre todos os bairros de Mogadiscio desde a queda do governo em 1991 e a tomada do poder pelos senhores da guerra, que dividiram o país em campos rivais. A milícia vinha lutando com uma aliança de senhores da guerra seculares pelo controle do país. A situação agravou-se a partir de fevereiro. A partir de então, 300 pessoas morreram e 1.700 ficaram feridas. Apoio americano Acredita-se que os Estados Unidos apóiem a aliança de senhores da guerra para impedir que a Somália seja tomada por militantes islâmicos simpáticos à rede extremista Al-Qaeda. Oficialmente, porta-vozes do governo americano não confirmam nem negam. Em 1993, os EUA protagonizaram uma desastrada operação militar que resultou na morte de 18 de seus soldados na Somália. Desde então, o Exército americano não executou mais nenhuma missão no país africano. A Somália afundou no caos a partir de 1991, quando senhores da guerra derrubaram o ditador Mohamed Siad Barre e depois voltaram-se uns contra os outros. Desde então, o país encontra-se sem um governo central. A situação no país assemelha-se em parte ao que ocorreu no Afeganistão. Milícias islâmicas são acusadas de laços com a rede extremista Al-Qaeda e forças seculares de receber ajuda dos Estados Unidos. Demissão de ministros Em meio a tomada do poder na capital pela milícia islâmica, quatro membros do Governo provisório da Somália foram destituídos nesta segunda-feira por sua responsabilidade nos combates registrados no último mês entre "senhores da guerra" e as cortes islâmicas. Os ministros destituídos são os de Segurança Nacional, Mohammed Afran Qanyare; de Assuntos Religiosos, Omar Muhamoud Finnish; de Reabilitação das Milícias, Issa Botan Alin; e de Comércio, Muse Sudi Yalahow. A decisão foi tomada no domingo à noite pelo primeiro-ministro somali, Ali Mohammed Ghedi, segundo um porta-voz do Governo provisório, que funciona na cidade de Baidoa, a noroeste de Mogadiscio. Os quatro ministros destituídos integram uma aliança de "senhores da guerra" criada em fevereiro para combater o crescente poder dos cortes islâmicas em Mogadiscio. Desde então, os combates entre os dois bandos deixaram 300 mortos.

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