30 de junho de 2014 | 02h04
O grupo extremista que luta contra o governo iraquiano, o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Isil, na sigla em inglês), pratica uma versão do Islã fundamentalista do século 7, entretanto demonstra uma sofisticação extremamente moderna usando as mídias sociais, particularmente o Twitter e sites como WordPress e Tumblr.
No Twitter, o Isil se apoderou das hashtags da Copa do Mundo. E usa o Facebook para ameaças de morte; o aplicativo SoundCloud transmite música jihadista; e YouTube e Twitter exibem vídeos para aterrorizar inimigos.
Mais rapidamente do que seus rivais, o Isil lançou mão de "tudo o que é necessário para compartilhar seu material em tempo real com dezenas de milhares de jihadistas", afirmou Rita Katz, que na sexta-feira publicou um estudo sobre o Isil e o Twitter na página do SITE Intelligence Group, que monitora a atividade extremista online.
"O Isil, assim como seus patrocinadores, adotou rapidamente estes instrumentos a fim de promover a jihad", escreveu.
Logo, o Isil postou mensagens do campo de batalha na Síria e posteriormente no Iraque. Quando os governos que ele combatia suspenderam as comunicações de celulares, seus técnicos montaram unidades móveis de acesso à internet.
Em um exemplo particularmente chocante, a organização postou no Twitter um vídeo da decapitação de um policial, com a mensagem "Esta é a nossa bola. É feita de pele humana #WorldCup".
Além de semear o terror, o uso das mídias sociais traz impactos às batalhas. Em Mossul, duas semanas antes de atacar e tomar a cidade, o Isil enviou ameaças de morte pelo Facebook a todos os jornalistas iraquianos da cidade.
Boa parte deles desistiu de trabalhar, e provavelmente esta foi uma das razões pelas quais o avanço sobre a cidade recebeu tão pouca atenção no exterior.
Funcionários do Ministério das Comunicações informaram posteriormente que suspenderam a mídia social porque a campanha do Isil prejudicou o moral dos soldados iraquianos em Mossul, contribuindo para o espantoso colapso de duas divisões inteiras.
Especialistas em atividades extremistas online lamentaram que as redes sociais não se policiem melhor. "O Twitter precisa mostrar-se mais ativo na repressão destas atividades", disse Katz. "Ele tem a possibilidade de monitorar as contas e impedir que elas prossigam em escala maior, ao contrário do que tem feito".
Respondendo a indagações sobre a presença do Isil, Nu Wexler, um dos porta-vozes do Twitter, disse: "Não monitoramos em geral o conteúdo, mas revemos as contas denunciadas e as suspendemos quando violam nossas normas".
Um representante de uma rede social que não quis ser identificado disse que as consideráveis dimensões dos sites impedem a coibição dos terroristas. "Nossa política é suspender toda organização terrorista", diz.
Foi o que o Facebook fez com meia dúzia de contas ligadas ao Isil, informou o representante da rede social. Camisetas com o símbolo do Isil eram vendidas pelo Facebook.
O uso do Twitter por terroristas é até maior do que o do Facebook, porque sua brevidade serve para postar no próprio campo. O feed está repleto de louvores aos ataques do 11 de Setembro, além de fotos de caixões com a bandeira americana. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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