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Militar descreve policiais afegãos como 'corruptos' e 'drogados'

Afirmação foi feita depois que um policial matou cinco soldados britânicos dentro de uma base e fugiu

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Por Redação
Atualização:

Um comando militar descreveu os policiais afegãos da província de Helmand como, na maioria, "corruptos" e "drogados, especialmente em ópio". As acusações foram feitas depois que um policial afegão abriu fogo contra soldados britânicos em um posto de controle, deixando cinco mortos e oito feridos. Em seguida, o policial fugiu.

 

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"Fomos a Helmand para treinar a Polícia Nacional afegã sem saber a que nível se encontrava, achávamos que teríamos que ajudá-los a patrulhar com eficiência", afirma o militar, não identificado, em declarações na edição desta quinta-feira, 5, do jornal The Independent.

 

"Por outro lado, tivemos que ensiná-los a apontar com a arma na mira e não parar sem motivo os motoristas para exigir o pagamento de dinheiro", afirma o comando militar ao jornal. "A maioria se drogava, chegavam na delegacia à noite totalmente drogados e, às vezes, ficavam atirando sem mais nem menos", acrescenta o militar. "Achávamos que treinaríamos adultos e percebemos que teríamos que trocar fraldas. Dê-lhes 20 rodadas de munição e acertarão uma vez no alvo", disse.

 

Segundo o militar, que falou sob anonimato, os policiais afegãos que encontraram "não tinham espírito de corpo, lealdade ou camaradagem, coisas que deveriam ter sido incluídas em seu treinamento". "Como formar um grupo de idiotas e transformá-los em uma força capaz se não têm senso de lealdade, de pertinência (a um corpo)?".

 

O militar afirma que os policiais afegãos que encontraram "tinham a capacidade de concentração de um mosquito: um dia apareciam 20, e no dia seguinte não se apresentava nenhum, depois vinham 15 e de repente aparecia um rosto novo". "Era muito difícil conseguir que fizessem inclusive o básico, como vigiar o posto. Drogavam-se, deixavam o posto, tinham relações sexuais entre eles, e poucos se mantinham atentos ou alertas", explica.

 

Os soldados britânicos se sentiam especialmente "vulneráveis", acrescenta, e, se saíam de patrulha, não diziam aos afegãos onde iam, para que não passassem a outros a informação e evitar que fossem colocadas minas pelo caminho. O militar reconhece que há progressos, "mas são muito lentos" e diz "que foi desperdiçado dinheiro e muitas vidas foram perdidas inutilmente" por culpa de uma decisão simplesmente política. "O Exército britânico teve que fazer algo que não deveria estar fazendo. Esse tipo de formação poderia ser feita pela Polícia do Ministério da Defesa ou policiais civis", afirma o militar.

 

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Ataque

 

O ataque aumentou os temores de indisciplina e infiltração dentro das forças de segurança afegãs, que supostamente estão sendo preparadas para assumir o combate contra o Taleban, permitindo o retorno das tropas estrangeiras. O incidente ocorreu quase um mês depois de um policial afegão ter aberto fogo contra soldados americanos em uma patrulha conjunta na Província de Wardak, matando dois deles.

 

Segundo o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o Taleban assumiu a autoria do atentado. O número de mortos foi um dos mais altos entre britânicos em um único ataque desde a invasão, em 2001, e elevou para 229 o total de soldados mortos do país. O Reino Unido tem atualmente 9 mil soldados no Afeganistão. É a segunda maior força estrangeira no país, logo depois dos EUA.

 

O porta-voz das forças britânicas, coronel David Wakefield, informou que os soldados estavam em missão de treinamento da polícia afegã, por isso trabalhavam e moravam com oficiais locais no posto de controle de Nad-i-Ali. "Inicialmente, acreditamos que um indivíduo que trabalhava como policial do Afeganistão, possivelmente agindo com algum comparsa, iniciou os disparos e fugiu", afirmou.

 

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O atirador teria se posicionado em um telhado e disparado durante um momento de descontração dos soldados, que acabavam de voltar de uma patrulha. Um policial de Helmand, falando em condição de anonimato, disse que as forças locais passaram a noite à procura o autor dos disparos. Ele seria um homem que já trabalhava como policial na região havia três anos e teria passado pela academia de polícia de Kandahar. Não se sabe o que motivou o ataque.

 

O presidente afegão, Hamid Karzai, emitiu uma nota condenando o ato e expressando condolências às famílias dos mortos. Por meio de seu porta-voz, Karzai também garantiu que o ataque foi um incidente isolado. "Esses incidentes podem ocorrer em qualquer lugar. Não se pode usar um caso isolado para dizer que há problemas com a força policial do Afeganistão", afirmou Humayun Hamidzada. "Nos EUA, há gente que atira contra os outros em shopping centers. Há loucos em toda parte."

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