
26 de fevereiro de 2012 | 03h02
Em meio à desilusão dos portugueses com os políticos tradicionais, motivada pela crise do euro e pelo programa de austeridade imposto pela União Europeia, os militares da Revolução dos Cravos de 1974, hoje na reserva, tornaram-se porta-vozes do descontentamento dos setores da população mais afetados pelos cortes de gastos, como funcionários públicos, as Forças Armadas e professores.
Sem as restrições de manifestações impostas à ativa, os "capitães de abril" - como são chamados em Portugal os líderes do movimento que colocou fim à ditadura salazarista - converteram-se nos principais críticos do governo e do pacote de austeridade, que prevê cortes em pensões e benefícios da categoria.
"A população certamente não vai aceitar de bom grado essas medidas. Espero que os militares tenham a vontade e a força suficiente para, como se passou no Egito, dizer 'não' à repressão", disse recentemente o presidente da Associação 25 de abril, Vasco Lourenço. "Precisamos nos unir para impedir essa crise de anular a democracia com governos de tecnocratas."
Vozes mais radicais, como Otelo Saraiva de Carvalho, chegaram a defender "uma nova revolução dos cravos" contra a crise financeira. "Estou convicto que, em qualquer altura, se os militares estiverem dispostos a isso, podem avançar sempre para uma tomada de poder", afirmou.
Para analistas, no entanto, a representatividade dos militares da Revolução dos Cravos na sociedade portuguesa é relativamente pequena.
"Temos assistido nas Forças Armadas a um início de movimentos de protesto", diz o professor de ciência política da Universidade de Lisboa António Costa Pinto. "Esses oficiais de abril, apesar de não terem força política, são porta-vozes desse descontentamento das Forças Armadas com os cortes."
Em Portugal, os oficiais da ativa são proibidos de participarem de atos públicos de protesto, mas a associação de oficiais já expressou descontentamento com as medidas do governo.
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