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Militares intensificam repressão, fecham jornais e prendem jornalistas em Mianmar

Manifestantes foram encurralados no centro histórico de Yangon após protesto no Dia Internacional da Mulher; sedes de meios de comunicação foram invadidos por militares e profissionais foram presos

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Por Redação
Atualização:

YANGON, Mianmar - A junta militar que tomou o poder em Mianmar vem intensificando a repressão no país. Veículos de imprensa foram fechados, jornalistas presos e manifestantes da oposição foram perseguidos durante a noite em um bairro de Yangon.

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Centenas de pessoas, muitas delas mulheres, só puderam sair às ruas na manhã desta terça-feira, 9, após passarem a noite se escondendo das forças de segurança do governo. No dia anterior, os manifestantes haviam participado de uma marcha pelo Dia Internacional da Mulher.

Durante o ato, os oposicionistas foram encurralados no bairro de Sanchaung, no centro histórico de Yangon, depois que a polícia bloqueou todas as vias de saída do local na tarde de segunda-feira, 8.

As forças de segurança lançaram granadas de efeito moral e dispararam repetidas vezes, mesmo com o apelo dos manifestantes, aos gritos, para saírem do local.

Manifestantes usam extintores de incêndio a partir de barricada durante protesto em Yangon. Foto: REUTERS

Muitas pessoas se esconderam nas casas de vizinhos à espera de que a polícia e os serviços secretos, que intimidaram os residentes ao questionarem cada um deles porta a porta, interrompessem o assédio. O cerco aos manifestantes acabou durante a madrugada.

Alguns dos manifestantes que ficaram presos no centro histórico disseram à agência de notícias EFE que não deixaram o local até o nascer do sol, pelo temor de que a retirada das tropas fosse uma armadilha.

Pelo menos 40 pessoas foram presas na ação policial, segundo testemunhas, que afirmaram que caminhões militares levaram os opositores detidos.

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Apesar da perseguição, os cidadãos de Mianmar regressaram às ruas nesta terça em várias cidades do país, como Yangon e Mandalay, para cobrar o retorno da democracia e o respeito ao resultado das eleições de novembro do ano passado. Os manifestantes também exigem a soltura dos líderes civis presos no golpe de Estado, incluindo a vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi.

Censura à imprensa e a jornalistas presos

Os militares também aumentaram a perseguição aos meios de comunicação independente e aos jornalistas que nele trabalham. Os alvos são as publicações que denunciam o golpe de Estado de 1º de fevereiro e a repressão violenta que já vitimou cerca de 60 pessoas.

Dois jornalistas foram presos em Yangon na terça-feira, somando-se a uma ampla lista de mais de 30 profissionais da imprensa que foram detidos desde o golpe.

Após repressão que durou toda a madrugada de segunda, 8, manifestantes voltaram às ruas na terça. Foto: REUTERS

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O canal público MRTV, agora controlado pelo Exército, anunciou, na noite de segunda, o cancelamento das licenças para a publicação e retransmissão dos meios de comunicação Myanmar Now, 7 Day News, Democratic Voice of Burma, Mizzima e Khit Thit News, que a partir de agora vão não poderão continuar informando legalmente sobre o que está acontecendo no país.

Apesar disso, Mizzima, criada por jornalistas exilados em 1988, reafirmou seu compromisso de "continuar lutando contra o golpe militar e a restauração da democracia e dos direitos humanos" e se comprometeu a continuar a reportar em seus portais digitais e redes sociais.

"Estamos num ponto em que continuar a fazer o nosso trabalho significa correr o risco de sermos presos ou assassinados. A verdade é que não deixaremos de cobrir os enormes crimes que o regime tem cometido em todo o país", afirmou, por sua vez, Swe Win, editor-chefe do Myanmar Now, portal fundado em 2015 - cuja sede foi invadido pelos militares.

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Embaixador no Reino Unido apela pela libertação de Suu Kyi

O embaixador de Mianmar no Reino Unido, Ktaw Zwar Minn, nomeado pelo governo civil, exigiu em uma carta a libertação da líder deposta, Aung San Suu Kyi, sob prisão domiciliar desde o primeiro dia do levante.

"A diplomacia é a única resposta. A única saída para a crise atual só pode ser encontrada na mesa de negociações", disse o diplomata, em um gesto "de coragem e patriotismo" elogiado pelo chanceler britânico Dominic Raab.

Manifestante lava o rosto com Coca-Cola para diminuir efeitos de gás usado pela polícia durante protesto em Mianmar. Foto: AFP

O embaixador de Mianmar na ONU, Kyaw Moe Tun, e a embaixada de Washington também se distanciaram publicamente da junta militar.

De acordo com a imprensa de Mianmar, pelo menos 10 diplomatas birmaneses em Washington, Los Angeles, Nova York e Bruxelas aderiram ao movimento de desobediência civil na semana passada.

O isolamento da junta militar aumenta com a condenação internacional generalizada e as sanções impostas a comandos selecionados do Exército e seus interesses econômicos pelos EUA, Reino Unido e Canadá.

O Exército justificou a tomada do poder por uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, onde os observadores internacionais não detectaram qualquer fraude e em que a Liga Nacional para a Democracia, o partido liderado por Suu Kyi./ EFE

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