Militares ocupam portos e aeroportos

Maioria das instalações estava sob controle de governos de oposição

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Por Ruth Costas e CARACAS
Atualização:

Militares consolidaram ontem a ocupação dos principais portos e aeroportos da Venezuela - a maioria dos quais estava sob controle de governos de oposição - pondo em prática uma polêmica lei que entregou ao governo central a administração dessas instalações. Os aeroportos ocupados ontem foram o La Chinita, na cidade de Maracaibo, reduto opositor e segunda cidade mais importante da Venezuela, localizada no Estado de Zulia; o Arturo Michelena, em Valência, no Estado de Carabobo; o da cidade de Barcelona (Anzoátegui); e o Santiago Mariño, na Ilha Margarita. O presidente venezuelano também consolidou a ocupação militar iniciada na semana passada dos portos de Maracaibo (Zulia); Puerto Cabello (Carabobo); e Guamache, na Ilha Margarita (Nueva Esparta). Agora, ele incluiu o Porto de Guanta, na cidade Puerto la Cruz (Anzoátegui), que passou a estar "sob controle do governo nacional" desde as primeiras horas do dia. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (INAC), José Luis Martínez, a Guarda Nacional ajudou a garantir a mudança da equipe de gestão. A medida já havia sido anunciada há uma semana e faz parte de um processo de centralização que teve início no dia 11 com a aprovação de uma reforma na Lei de Descentralização que passou o controle de portos, aeroportos e estradas dos governos estaduais para o governo central. O presidente venezuelano disse que seu governo vai elaborar um "plano estratégico de investimento" para modernizar os portos e aeroportos, que será desenvolvido por corporações nacionais. ALIMENTOS As ocupações coincidiram com o anúncio de um pacote econômico e a adoção de medidas, que aceleram a implementação do projeto socialista de Chávez. O presidente elegeu o setor alimentício como o primeiro alvo das novas mudanças. O objetivo ele não esconde: controlar grande parte da cadeia produtiva venezuelana para impedir que as grandes empresas boicotem o avanço da revolução. Seus métodos são a desapropriação de fazendas e indústrias, intervenções, ameaças e tabelamento de preços. "Elaborar um projeto para ampliar o controle da cadeia produtiva foi a fórmula encontrada pelo governo de Chávez para evitar que o descontentamento causado pela crescente inflação e pela escassez de alguns alimentos resulte em perda de votos", disse ao Estado o economista venezuelano Maxim Ross, diretor de uma conceituada consultoria que leva o seu nome. No início do mês, uma beneficiadora de arroz da gigante americana Cargill foi expropriada. Dias antes, militares e fiscais do governo haviam ocupado outra processadora da companhia Polar, de capital venezuelano. Na terça-feira, o governo anunciou que, além dos produtos básicos, também tabelará os insumos para a produção de arroz. Na quinta-feira, resolveu expropriar uma fabricante de sardinhas em lata depois que seus funcionários, simpatizantes de Chávez, denunciaram que a empresa havia reduzido em 30% a sua produção. Nos últimos meses, fiscais têm circulado pelas empresas impondo metas de produção para os produtos tabelados. A desapropriação de terras também segue a todo vapor e a oposição denuncia que até fazendas produtivas estão sendo tomadas. "É um risco que três ou quatro indústrias controlem a produção de alimentos para o povo venezuelano", disse recentemente o ministro da Agricultura, Elias Jaua, resumindo a estratégia do governo. "A ideia é tomar o controle desse setor, inaugurando a hegemonia do Estado e do poder social." TESOURO ABALADO Francine Jácome, diretora do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos (Invesp), disse que, até 2008, o governo Chávez tinha recursos para suprir a escassez de alguns produtos com importações. "A queda do preço do petróleo reduziu a capacidade de Chávez adotar tal estratégia. É por isso que ele resolveu tomar as instalações das empresas - para obrigá-las a produzir o que está faltando e vender pelo preço estipulado", disse ela. Em uma década de governo Chávez, a Venezuela tornou-se mais dependente da importação de comida. José Guerra, da Universidade Central da Venezuela, diz que o país importa 70% dos alimentos que consome. "Nos anos 90, esse índice estava entre 40% e 50%." "Já é um chavão dizer que a crise, além de problemas, também cria oportunidades", disse Chávez. "Aproveitaremos essa oportunidade para aprofundar a luta contra privilégios de setores que já ganham muito." CENTRALIZAÇÃO 4 Estados tiveram seus portos e aeroportos ocupados por militares 80% da matéria-prima importada na Venezuela entra por Puerto Cabello 70% dos alimentos consumidos no país são importados

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