Milosevic: do sonho da Grande Sérvia à prisão

Os que o conheceram diziam que não tinha amigos desde criança

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Por Agencia Estado
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Nascido em Pozarevac (Sérvia) em 1941, de pai teólogo ortodoxo e mãe comunista, que se suicidaram, Milosevic, apelidado de "Slobo", tinha 43 anos quando entrou na política em 1987. Os que o conheceram diziam que não tinha amigos desde criança, que era um mentiroso patológico e que sua concepção da vida e da morte era muito peculiar, talvez por causa do suicídio dos pais. Mulher Para muitos, ele era controlado pela esposa Mira Markovic que teria sido a responsável por muitas das posições políticas de Milosevic. A ascensão desse homem introvertido, péssimo orador e desprovido de carisma foi fulgurante. Movido por um nacionalismo exacerbado e o sonho de criar uma Grande Sérvia, Milosevic se projetou como o homem que os sérvios esperavam: ele neutralizou seus adversários e, em 1987, obrigou seu mestre e mentor político, Ivan Stambolic, a se demitir, e assim chegou à presidência da Sérvia. Narcisista Em 1989, ele anulou a autonomia de Kosovo outorgada pelo ex-presidente da Iugoslávia, Tito, em 1974, a esta província de maioria albanesa. Impunha-se em toda a Sérvia o culto a sua pessoa. Movido pela ambição e impressionado por seu triunfo, Milosevic empurrou seus compatriotas sérvios da Croácia a proclamarem a República Autônoma de Krajina e os sérvios da Bósnia para criarem a "República do povo sérvio de Bósnia-Herzegovina". Sarajevo Mas os episódios sangrentos dessa trajetória não se fariam esperar. O Exército iugoslavo converteu em ruínas a cidade croata de Vukovar, que passará à história como um símbolo da resistência à ofensiva sérvia contra Sarajevo, de 1992 a 1995. Esta provocou a morte de milhares de pessoas, e o massacre do enclave de Srebrenica, na Bósnia, onde morreram 7.000 muçulmanos, foi a matança mais cruel desde a 2ª Guerra Mundial. Diplomata Inexplicavelmente, Milosevic continuou sendo um interlocutor válido no exterior e conseguiu firmar, em 1995, os acordos de Dayton, nos Estados Unidos, pondo fim à guerra da Bósnia. Mas em 1998, o ímpeto nacionalista e expansionista de Milosevic resultou na guerra em Kosovo. Para evitar a limpeza étnica, milhares de albaneses fugiram, a OTAN interferiu em 1999 e bombardeou a Sérvia durante 11 semanas conseguindo a retirada das tropas de Belgrado daquela província. A queda Depois disso, o povo sérvio se rebelou, multiplicou as greves e manifestações, e na eleição presidencial votou contra seu antigo líder e herói. Em 2001, Milosevic é preso e declara-se inocente de acusações de desvio de dinheiro. Ainda naquele ano, Milosevic é transferido para tribunal da ONU, onde estava sendo julgado até morrer na cela. História 24/2/2006 - Tribunal rejeita pedido de Milosevic para viajar à Rússia para tratamento médico 15/5/1986 - É eleito líder do Partido Comunista sérvio Janeiro de 1988 - A ala de Milosevic no Partido Comunista depõe o presidente sérvio Ivan Stambolic 9/12/1990 - Durante onda nacionalista, ele é eleito presidente na primeira eleição multipartidária da Sérvia desde a 2ª Guerra Junho de 1991 - Croácia e Eslovênia proclamam independência. Conflitos na Croácia entre croatas e sérvios 6/4/1992 - União Européia reconhece a independência da Bósnia. Começa guerra entre governo bósnio e sérvios locais, que iniciam cerco de três anos à capital Sarajevo 15/7/1997 - Milosevic eleito presidente da Iugoslávia pelo Parlamento federal 27/5/1998 - Tribunal da ONU confirma indiciamento de Milosevic por crimes de guerra 06/10/2000 - Pressionado pela oposição, Milosevic desiste do segundo turno da eleição sérvia 1/4/2001 - Milosevic é preso e declara-se inocente de acusações de desvio de dinheiro 06/2001 - Sob pressão internacional, governo iugoslavo transfere Milosevic para tribunal da ONU. Ele é indiciado por 66 acusações de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra na Bósnia, na Croácia e em Kosovo 24/2/2006 - Tribunal rejeita pedido de Milosevic para viajar à Rússia para tratamento médico 11/2/2006 - Slobodan Milosevic é encontrado morto na sua cela no Tribunal Penal Internacional, em Haia.

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