Mineiros chilenos já sabem que só sairão no Natal

Grupo de 33 sobreviventes resigna-se com a notícia e inicia 'terapia ocupacional' para suportar 4 meses sob a terra

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SANTIAGOOs 33 mineiros que estão presos há 20 dias a 688 metros de profundidade numa mina de Copiapó, no norte do Chile, foram informados pelo presidente chileno, Sebastián Piñera, de que não poderão ser resgatados antes do Natal. Segundo o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, eles "aceitaram e estão tranquilos". A notícia foi transmitida ao grupo na terça-feira, mas o governo só tornou a informação pública ontem.Os mineiros perderam em média 10 quilos e tentam se adaptar à escuridão e à temperatura de 36º. Há apenas dois dias eles começaram a receber suprimentos de gel de reidratação e sopas. O grupo será responsável por realizar seus próprios exames médicos, pois as equipes de resgate só poderão auxiliar os mineiros por meio de sondas que possuem, no máximo, 8 centímetros de diâmetro. O grupo recebeu termômetros e fitas métricas para tomar as medidas de seus corpos, além kits para exame de urina, colírios e curativos oftalmológicos que servirão para superar a irritação causada pela pouca luminosidade, a poeira e a alta concentração de monóxido de carbono dos túneis onde eles se encontram desde o dia 5, quando um desmoronamento deixou o grupo preso.Ontem, o uruguaio Carlos Páez Rodríguez - um dos 16 sobreviventes que passaram 72 dias isolados na Cordilheira dos Andes, depois da queda de um avião com 45 passageiros, em outubro de 1972 - anunciou que pretende ir a Copiapó para conversar com os parentes dos mineiros. Páez Rodríguez, que com os outros sobreviventes da tragédia aérea, teve de alimentar-se dos corpos dos passageiros mortos para sobreviver, disse que um dos inimigos dos mineiros será o tédio. "Mesmo numa situação tão trágica, você fica entediado. Eles têm de fazer de tudo para manter a mente ocupada."Além de alimentos e remédios os mineiros também receberão equipamentos de som e imagem para entretenimento, além de jogos de cartas, lápis e papel, numa estratégia que o ministro Mañalich definiu como "terapia ocupacional".O técnico da seleção chilena de futebol, Marcelo Bielsa, enviou ao grupo uma camisa da seleção assinada por ele e por todos os jogadores que participaram da Copa da África do Sul. Um dos mineiros presos, Franklin Lobos, de 55 anos, jogou em times da primeira divisão e defendeu a seleção chilena no pré-Olímpico de 1984, quando enfrentou a seleção brasileira em Los Angeles. Fazia dois meses que Lobos havia começado a trabalhar na Mina San José, como motorista, quando ocorreu o desastre.Camisetas. Cientes de que o trabalho de resgate será demorado, os parentes dos mineiros começaram a discutir meios de subsistência. Uma das ideias é fazer da tragédia um negócio, lançando camisetas com a frase "estamos bem no refúgio, os 33" - uma reprodução do bilhete escrito pelos mineiros e enviado à superfície através de uma sonda, no domingo. Este foi o primeiro sinal de que o grupo havia sobrevivido ao deslizamento. Ontem, as famílias dos mineiros começaram a enviar e receber bilhetes do grupo por meio das sondas. / REUTERS, AP e EFE

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