Mineiros cobram até US$ 25 mil por entrevista

Pacto de silêncio dos 33 homens resgatados de uma mina no norte do Chile não deve resistir à demanda de jornalistas por histórias do confinamento

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Por Alexei Barrionuevo , Simon Romero , THE NEW YORK , TIMES COPIAPÓ e CHILE
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Parentes dos 33 mineiros presos por 70 dias na Mina San José disseram que uma missa no domingo seria uma chance para encerrar o drama. Quando um deles, Omar Reygadas, deixou a igreja, câmeras e fotógrafos o cercaram. Sua neta, sentindo-se presa na multidão, começou a chorar.Quando ele a pegou no colo, as câmeras o focalizaram. Reygadas parecia calmo e revelou um pouco da vida na prisão subterrânea. "Tive pesadelos o tempo todo", disse. "Mas o pior pesadelo são vocês."Dizendo que firmaram um pacto de não revelar detalhes sobre a traumática experiência, os mineiros têm falado pouco. Muitos deixaram claro, contudo, que já receberam ofertas pelos relatos, o que mostra a complexidade da história e os desafios econômicos que eles enfrentam. No sábado, na favela de Juan Pablo II, em Copiapó, cidade próxima da mina, jornalistas se acotovelaram diante da casa do boliviano Carlos Mamani. Ontem, após reunir-se com o presidente da Bolívia, Evo Morales, ele aceitou voltar ao país. Segundo familiares, ele receberá uma casa e um emprego na estatal de petróleo YPFB com um salário de cerca de US$ 1 mil. Verónica Quispe, sua mulher, disse que ele estava cobrando pelas entrevistas. "Somos pobres, vejam onde vivemos", disse. "Vocês ganham com nossas histórias. Por que não podemos aproveitar para ganhar algum dinheiro e alimentar nossos filhos?" Os mineiros têm cobrado de US$ 40 até US$ 25 mil por entrevista. Algumas agências de notícias chegaram a oferecer visitas a Japão, Alemanha ou Itália em troca de entrevistas exclusivas. Na sexta-feira, em Copiapó, repórteres juntaram-se diante da casa de Florencio Avalos, primeiro a ser resgatado. Um homem identificou-se como tio de Florencio e disse que era possível conversar com ele, mas que isso tinha um preço. Ari Hirayama, do jornal japonês Asahi Shinbum, pagou US$ 500 pela conversa. Jessica Chilla, mulher de Darío Segovia, também foi direta. "Ele está cobrando pelas entrevistas a título de indenização." Segovia já concedeu duas entrevistas. Uma de meia hora, para uma TV alemã, por US$ 1.040, e outra para uma agência japonesa, por US$ 417.O pacto de silêncio parece estar se desfazendo. A ABC News informou que está preparando um programa com Mario Sepúlveda, de 40 anos, que saiu da mina saudando os socorristas. "A ABC conseguiu material sob licença da família", disse a porta-voz da rede, Alison Bridgman, contestando rumores de que o canal tinha pagado pela entrevista. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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