Ministra britânica relativiza solução rápida para crise com Irã

Horas após Blair dizer que "próximas 48 horas serão cruciais", titular das Relações Exteriores pediu cautela; Irã volta a transmitir fotos de militares detidos

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Por Agencia Estado
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Apesar da crescente expectativa nos últimos dias por uma solução rápida para a crise desencadeada pela captura de 15 militares britânicos por forças iranianas, sinais contraditórios dos governos de ambos os países esfriaram os ânimos dos mais otimistas nesta terça-feira, 3. Horas após o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, afirmar que as "próximas 48 horas serão cruciais" para resolver a questão com agilidade, a secretária de Relações Exteriores britânica, Margaret Beckett, pediu cautela aos que esperavam uma saída rápida para a disputa. "Os esforços diplomáticos continuam", disse Beckett, sublinhando que o Reino Unido ainda não teve acesso consular garantido aos cativos. Os 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos foram presos em águas do Golfo Pérsico disputadas pelo Irã e Iraque, no último dia 23, por membros da Guarda Revolucionária iraniana. O Irã alega que os militares invadiram seu território. O Reino Unido, entretanto, garante que seus homens estavam em uma operação de rotina em águas territoriais iraquianas. Além disso, depois de aparentemente se comprometer a adotar um tom mais ameno na guerra de propaganda que trava contra Londres, o governo iraniano voltou a divulgar fotos dos cativos nesta terça-feira. Não houve, entretanto, veiculação de novas "confissões". Nos últimos dias, agências de notícias e canais estatais subordinados à Teerã passaram a publicar cartas e vídeos em que os militares "assumem" que invadiram as águas iranianas. Na segunda-feira, entretanto, um canal de TV estatal iraniano anunciou que não transmitiria mais nenhuma "confissão" devido a "mudanças positivas" na postura do governo britânico. Londres condenou a veiculação de vídeos e imagens dos militares. Diplomata solto Mas, em uma aparente indicação de que as negociações entre Londres e Teerã estão em andamento, um importante diplomata iraniano preso no Iraque foi solto nesta terça-feira. Paralelamente, um funcionário do ministério de Relações Exteriores iraquiano anunciou que irá pressionar o Exército americano para que outros cinco iranianos detidos pelas Forças Armadas dos EUA sejam libertados. "Este será um fator que ajudará na libertação dos militares britânicos", disse ele, referindo-se aos 15 marinheiros e fuzileiros navais detidos pela Guarda Revolucionária iraniana. Embora oficialmente os dois países neguem a possibilidade de uma troca de prisioneiros, há sinais de que um acordo com esse teor possa ser parte de uma solução para crise. Em reportagem desta terça-feira, o jornal britânico The Independent afirma que a captura de funcionários do governo de Teerã por forças americanas em solo iraquiano foi o estopim para a ação da Guarda Revolucionária iraniana nas águas do Golfo. De acordo com o texto, os EUA pretendiam prender um diplomata e um general iraniano que participavam de uma visita à cidade curda de Irbil, no norte do Iraque. A ação não saiu como esperado, mas cinco funcionários do escritório do governo de Teerã na cidade foram detidos, sob a acusação de trabalharem para a Guarda Revolucionária iraniana. Ainda segundo o Independent, a investida contra o diplomata solto nesta terça também teria sido apoiada pelos EUA. Na lógica do jornal, a investida contra os marinheiros e fuzileiros britânicos pela Guarda Revolucionária iraniana seria uma maneira de dar o "troco" aos americanos, uma vez que o Reino Unido é o principal aliado dos EUA na guerra do Iraque. 48 horas Mais cedo nesta terça-feira, Blair alertou que o Reino Unido adotará "um posição cada vez mais dura" caso as tentativas diplomáticas para sanar a crise não apresentem resultados. Antes de Beckett lançar um balde de água fria sobre os que esperavam uma saída rápida para crise, Blair chegou a estabelecer um prazo para uma solução negociada. "As próximas 48 horas serão cruciais", disse o premiê a uma rádio escocesa. Ele também reagiu positivamente à sugestão do negociador iraniano, Ali Larinjani, de que uma solução diplomática é possível. "Se eles querem resolver isso pela via diplomática, a porta está aberta", disse o premier, para depois acrescentar que tomaria uma postura mais dura caso as negociações falhem. Em entrevista após as declarações do premiê, Beckett descartou a possibilidade de que o endurecimento anunciado por Blair possa significar algum tipo de ação armada por parte de Londres. Novas imagens As novas imagens dos militares veiculadas pela mídia iraniana nesta terça-feira mostram os britânicos sentados em um tapete vermelho, vestidos com abrigos esportivos e descalços. Divulgada pela agência Fars, as três fotos foram provavelmente tiradas de um vídeo. Embora não contenham as "confissões" - condenadas pelo governo britânico - a legenda das imagens conta com um tom que é, no mínimo, provocador: "Os marinheiros britânicos conversam, comem frutas, tomam café e jogam xadrez. Parecem estar satisfeitos com sua situação, na qual aproveitam boas condições, ao invés de trabalharem em situações difíceis no Golfo Pérsico. Há alguns dias, a embaixada iraniana em Londres divulgou uma carta assinada por Faye Turner, a única mulher do grupo, em que ela se diz "sacrificada" pelas políticas dos Estados Unidos e Reino Unido para o Iraque. Londres argumenta que as afirmações foram feitas sob coerção. Texto ampliado às 17h08

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