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Ministro britânico defende cooperação com o Brasil, apesar de divergências

Em visita oficial, Hague disse que Brasil terá mais responsabilidades em órgãos internacionais

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RIO DE JANEIRO - O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, admitiu em sua primeira visita oficial ao Brasil que os dois países têm divergências em política externa, mas destacou a agenda positiva que querem promover juntos. "A politica externa muda com o tempo e acho que há muitas áreas em comum, como discuti com o ministro (das Relações Exteriores, Antonio) Patriota", disse o ministro à BBC Brasil, após participar de evento promovido no Rio de Janeiro pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais. "O Brasil e o Reino Unido compartilham valores como a crença na democracia e nos direitos humanos. Já cooperamos muito também em temas que nem eram considerados importantes vinte anos atrás como mudanças climáticas." "É importante reconhecer que não estamos mais num mundo de blocos claramente divididos. Alguns grupos de países trabalham muito bem em alguns temas e discordam em outros e essas relações vão mudar ao longo das próximas décadas", afirmou Hague. Temas espinhosos O ministro veio ao Brasil com o objetivo de estreitar laços estratégicos nos campos político e comercial, mas teve que lidar também com temas mais espinhosos, com destaque para as divergências no tratamento ao regime iraniano e as controvérsias envolvendo as Ilhas Malvinas/Falkland. Embora analistas tenham notado um afastamento entre os governos brasileiro e iraniano desde que Dilma Rousseff assumiu o poder - como indicou a decisão do presidente Mahmoud Ahmadinejad de não passar por aqui em seu giro sul-americano - os brasileiros ainda defendem diálogo com o Irã enquanto os britânicos pedem sanções econômicas ao país. "Acho que temos um entendimento comum de que o programa nuclear iraniano é um problema sério e tem que ser resolvido de alguma maneira, mas nem sempre estamos de acordo sobre como fazê-lo. Podemos discutir isso amigavelmente", disse Hague. No caso das Malvinas, ele teve de responder a perguntas sobre a decisão do Brasil e dos outros países do Mercosul de acatar um pedido argentino de impedir que embarcações com a bandeira das Ilhas Malvinas entrem nos portos do bloco sul-americano. "Claro que não concordamos com nada criado para pressionar gente que vive numa comunidade com o direito à sua autodeterminação, como as pessoas que moram na Ilhas Malvinas, mas na prática isso não muda nada, porque os navios podem entrar nos portos do Mercosul exibindo a bandeira britânica." As divergências entre Brasil e Grã-Bretanha quanto ao Irã e às Malvinas já haviam ficado evidentes na quarta-feira, após encontro de Hague com o chanceler brasileiro, Antonio Patriota. Em coletiva de imprensa após o encontro, Hague disse, com bom humor, que conversara com o colega brasileiro sobre as Malvinas, mas que o diálogo terminou sem que as posições de ambos tivessem mudado. Ao fim da coletiva, após Hague defender o aumento da pressão sobre o Irã para forçar o país a abandonar seu programa nuclear, Patriota expressou ceticismo quanto à eficácia de novas sanções contra Teerã e disse ser contra "sanções que não sejam adotadas no marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas". A Grã-Bretanha, assim como países vizinhos, tem estimulado a União Europeia a impor um embargo ao petróleo iraniano. Responsabilidade O ministro afirma ainda que não o preocupa o fato de o Brasil despontar como um ator mais poderoso no cenário internacional discordando do Reino Unido, mas afirma que as dimensões e a posição do Brasil também aumentam suas responsabilidades. Um exemplo, segundo ele, é a participação brasileira nos processos de resgate financeiro de nações em crise: o país, que sempre esteve do lado receptor do balcão, é agora pressionado assumir a posição de um dos potenciais doadores. "É muito bom que o Brasil esteja se tornando uma grande economia mais potente, mas é importante não esquecer que é um país com um população enorme e ainda com renda per capita relativamente baixa, menor do que a maioria dos países da Europa", concluiu. O ministro William Hague também anunciou, em um discurso, que o príncipe Harry visitará o Rio de Janeiro em março para lançar uma campanha internacional do Governo Britânico para promover o país no ano em que a rainha Elizabeth 2ª completa 50 anos de reinado.

 

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