Ministros do G-20 decidem manter pacotes de estímulo à economia

Para autoridades, mundo ainda não está preparado para caminhar sem auxílio das políticas fiscal e monetária

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Por Daniela Milanese
Atualização:

As estratégias de saída da crise só serão adotadas quando a recuperação econômica estiver assegurada, decidiram os representantes do G-20, o grupo que reúne as principais nações desenvolvidas e emergentes do mundo. O encontro foi realizado em Londres entre sexta-feira e ontem. Por enquanto, os países manterão as políticas de estímulo fiscal e monetário. "Continuamos cautelosos sobre o crescimento e o emprego", diz o comunicado dos ministros de Finanças do grupo, que será a base para as discussões da reunião de cúpula (com presidentes e primeiros ministros) marcada para os dias 24 e 25 em Pittsburgh, nos EUA."Precisamos ter certeza de que terminaremos o trabalho que começou a ser feito, é vital para o crescimento que continuemos agindo", disse o ministro de Finanças do Reino Unido, Alistair Darling. Mas os sinais de retomada já levam os países a pensar em maneiras de reverter as medidas emergenciais adotadas em abril para combater a pior crise desde a Grande Depressão. Na ocasião, outro encontro em Londres determinou a implementação de várias medidas, entre elas um investimento conjunto de R$ 1,1 trilhão na economia global. O G-20 decidiu ontem que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) serão responsáveis por planejar as chamadas estratégias de saída de forma transparente e coordenada, sem deixar de reconhecer que o momento e a sequência das ações vai variar de acordo com a situação de cada país."Todos concordam que precisamos preparar as estratégias de saída e estarmos prontos para adotá-las, mas não agora", disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Ele acredita que a crise ainda está "à nossa frente", pois muitos problemas sociais devem surgir como resultado das turbulências e o pico do desemprego se dará apenas daqui a um ano. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, também destacou a deterioração do mercado de trabalho e avalia que as políticas de estímulo devem ser revistas quando "as condições permitirem". O G-20 reconheceu, ainda, a necessidade de dar mais espaço para os emergentes nas instituições financeiras internacionais. Conforme o comunicado, o papel dos países em desenvolvimento deve "aumentar significativamente para refletir as mudanças na economia mundial". Mas o documento não especifica porcentuais de transferências de cotas para a próxima revisão do FMI. Diz apenas que a discussão deve obter progresso na cúpula de Pittsburgh. Ontem, os chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) pediram uma transferência de 7% da fatia dos países ricos no Fundo para as nações emergentes. "É de nosso interesse que o FMI seja uma instituição forte", disse Geithner, defendendo a redistribuição de cotas.REMUNERAÇÃO DE EXECUTIVOSTambém em Pittsburgh, terá de avançar a discussão sobre limites para a remuneração aos executivos financeiros, um ponto de divisão entre os membros do grupo. Enquanto Alemanha e França querem colocar um teto para o pagamento de bônus, a fim de evitar novos problemas no sistema financeiro, os Estados Unidos defendem o reforço do capital dos bancos como a melhor forma de impedir a tomada excessiva de riscos. "Não acredito que nenhum país esteja propondo regras globais sobre os bônus", afirmou Geithner. Os Estados Unidos propõem a criação de novas exigências de capital para os bancos até o fim de 2010, com um prazo para a implementação global, "antes do próximo boom".Darling avalia que é preciso aumentar a transparência sobre as remunerações, além de relacioná-las com o desempenho das instituições no longo prazo. No entanto, ele acredita que existem outros importantes pontos a serem observados, como uma regulação mais firme do setor financeiro. Para o ministro britânico, seria um erro manter o foco somente no pagamento de bônus. "Todos os bancos precisam reconhecer que não estariam aqui sem os esforços dos contribuintes", observou. COMMODITIESO comunicado do G-20 tratou, ainda, da volatilidade dos preços das commodities, como o petróleo. O grupo vê a necessidade de aumentar a transparência nos mercados físico e futuro das matérias-primas, além de promover um diálogo mais próximo entre produtores e consumidores. Foi feita também rápida menção ao combate às mudanças climáticas e à necessidade de concluir a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

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