Minneapolis tem segunda noite de tensão após morte de jovem negro em ação policial

Na noite de ontem, dezenas de manifestantes se reuniram para uma vigília no local da morte de Daunte Wright, de 20 anos; uma escultura de punho fechado foi levada para o local, transferida da área onde George Floyd foi assassinado

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Por Redação
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Mesmo após a determinação de toque de recolher a partir das 19h de segunda-feira, 12, Minneapolis teve ontem a segunda noite de protestos em decorrência da morte supostamente acidental de um jovem negro em uma ação policial.

A morte de Daunte Wright, de 20 anos, elevou a tensão que já era registrada nas ruas da cidade do norte dos Estados Unidos em meio ao julgamento do ex-policial acusado pela morte de George Floyd.

Pessoas protestam contra os assassinatos de pessoas pela polícia, incluindo a morte de George Floyd e Daunte Wright, em 12 de abril de 2021. Foto: Patrick T. FALLON / AFP

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Na noite de ontem, dezenas de manifestantes se reuniram para uma vigília no local da morte de Wright. Uma escultura de punho fechado foi levada para o local, transferida da área onde Floyd foi assassinado. 

Os manifestantes gritaram frases contra o racismo diante da delegacia de Brooklyn Center, o subúrbio onde o jovem foi morto no último domingo.

O presidente Joe Biden chamou a morte de "trágica", mas advertiu contra qualquer possível manifestação violenta. "Não há "absolutamente nenhuma justificativa para saques", disse o democrata.

Além do toque de recolher, mil soldados da Guarda Nacional foram mobilizados para evitar novos tumultos enre manifestantes e policiais. Ignorando a ordem da prefeitura, dezenas de manifestantes continuaram agitando cartazes com frases como "Prendam todos os policiais assassinos racistas"; "Eu sou o próximo"; e "Sem justiça não há paz" e cantando palavras de ordem em frente à delegacia.

Pessoas gritam em direção à polícia no início do toque de recolher para protestar contra a morte de Daunte Wright, que foi baleado e morto por um policial no Brooklyn Center, Minnesota. Foto: KEREM YUCEL / AFP

A polícia usou gás lacrimogêneo em vários momentos e ordenou a dispersão dos manifestantes. Quarenta pessoas foram detidas e integrantes das forças de segurança sofreram ferimentos leves, de acordo com fontes policiais informaram à AFP.

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"Descarga acidental" 

Esta foi a segunda noite consecutiva de protestos em Minneapolis, depois que Wright morreu ao ser atingido por um tiro da polícia quando dirigia ao lado da namorada.

Durante uma ação de trânsito, uma agente "sacou a arma de fogo ao invés do taser", uma pistola elétrica para imobilização, e atirou, afirmou o comandante da polícia da localidade, Tim Gannon.

"Foi um tiro acidental que resultou na trágica morte" de Wright, disse Gannon.

Em comunicado, as autoridades judiciais do estado de Minnesota publicaram a identidade da agente envolvida: Kimberly Potter, policial de Brooklyn Center há 26 anos.

No vídeo do incidente, registrado pela câmera da policial, os agentes retiram o jovem do veículo e tentam algemá-lo. Mas ele resiste e volta a sentar o carro. É possível ouvir a policial gritar "Taser, Taser". Mas o que se ouve é um tiro.

"Que merda, eu atirei nele", afirma a oficial, enquanto Wright, ferido, avança com o carro, que bateu algumas ruas adiante.

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Um homem levanta o punho enquanto enfrenta os policiais do estado de Minnesota que montam guarda do lado de fora da delegacia de polícia do Brooklyn Center depois que um policial atirou e matou Daunte Wright, de 20 anos. Foto: KEREM YUCEL / AFP

Morte por asfixia 

A nova morte reacendeu o trauma de uma cidade que sofreu várias noites de tensão e incidentes após a morte de George Floyd, em 25 de maio de 2020.

Após os incidentes, a defesa do ex-agente acusado pela morte de Floyd, Derek Chauvin, pediu ao juiz que conduz o processo que isolasse o júri, preocupado que as manifestações pudessem influenciar sua decisão.

Mas tanto a promotoria quanto o juiz se recusaram a acatar o pedido.

Chauvin enfrenta acusações de homicídio culposo e doloso em segundo grau por seu papel na morte de Floyd, após imobilizá-lo colocando o joelho sob seu pescoço quando ele havia sido preso por supostamente ter feito um pagamento com uma nota falsa.

Memorial improvisado de George Floyd, durante o julgamento do ex-oficial da Polícia de Minneapolis, Derek Chauvin, acusado de matar Floyd, em Minneapolis, nos EUA. Foto: Chandan Khanna / AFP 

Ontem, no tribunal, a acusação interrogou o renomado cardiologista Jonathan Rich, que desmontou argumentação de defesa de Chauvin, cujo advogado alega que Floyd morreu por overdose de fentanil somado a fatores de saúde.

Rich afirmou que a morte ocorreu devido aos baixos níveis de oxigênio induzidos pela "asfixia posicional" a que foi submetido. "Não vejo nenhuma evidência de que uma overdose de fentanil tenha causado a morte de Floyd", ressaltou.

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A poderosa organização de direitos civis ACLU afirmou que 260 pessoas morreram em ações da polícia em 2021."O que precisa acontecer para que a polícia pare de matar pessoas de cor?", perguntou em um comunicado Ben Crup, o advogado da família Floyd, que também representará os parentes de Wright. /AFP

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