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Missão francesa vai ao encontro de Ingrid

Enviados estão na selva colombiana para tentar entrar em contato com as Farc, tratar a refém e obter sua libertação

Por Andrei Netto
Atualização:

O governo da França confirmou no início da noite de ontem, em Paris, que uma equipe de resgate de suas Forças Armadas está em operação na selva colombiana para contactar o grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), localizar e tratar a ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt - e, se autorizada pelos rebeldes, resgatá-la. Espanha e Suíça estariam dando apoio à missão. Acompanhe a cobertura do caso Ingrid Betancourt A estratégia diplomática representa um derradeiro esforço de negociação para evitar a morte da refém, seqüestrada em fevereiro de 2002. Com base em seus serviços de informação, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, confirmou na terça-feira que o estado de saúde de Ingrid - que sofre de hepatite B, leishmaniose, malária e desnutrição - é crítico. A operação foi definida por fontes da chancelaria como uma "missão humanitária" com dois objetivos: negociar com líderes das Farc um contato com Ingrid para prestar-lhe socorro médico e obter sua transferência da selva - o que na prática representaria um ato unilateral de libertação da refém por parte dos guerrilheiros. "A idéia é entrar em contato com as Farc, ter acesso a nossa compatriota (Ingrid é franco-colombiana), prestar socorro e, se possível, resgatá-la", confirmou um diplomata ouvido pelo Estado. "É uma operação muito sensível." O Palácio do Eliseu ordenou aos membros do governo sigilo absoluto sobre a operação. A chancelaria não confirmou se vem mantendo negociações com as Farc para obter a libertação. Nem divulgou a composição da equipe de resgate ou a procedência do avião médico. Desde segunda-feira um avião Falcon 900, da Força Aérea francesa, está de sobreaviso no Arquipélago dos Açores, no Atlântico. Mas fontes do Palácio do Eliseu disseram à France Presse que o avião de resgate teria partido da base de Villacoublay, em Yvelines, ao sul de Paris. Nele estariam, além de médicos, o diretor da chancelaria para as Américas, Daniel Parfait, que é cunhado de Ingrid, e o negociador e ex-cônsul da França em Bogotá Noël Saez. A missão partiu com a autorização do presidente colombiano, Álvaro Uribe. Em telefonema, Sarkozy pediu a Uribe a suspensão das atividades militares na região onde o encontro entre Ingrid e a equipe médica supostamente ocorreria, no sudeste da Colômbia. O governo colombiano prometeu fazer isso, mas só depois de as Farc divulgarem as coordenadas do lugar. "Estamos depositando muita esperança na operação", disse ontem pela manhã o chanceler francês, Bernard Kouchner, sem confirmar se a ação estava em curso ou não. "Fizemos tudo o que podíamos humanamente fazer. Agora temos de esperar que nossos enviados, entre eles o médico, alcancem a área." Pela manhã, Lorenzo Betancourt-Delloye, filho caçula de Ingrid, confirmou a operação e reiterou que o estado de saúde de sua mãe é muito grave. "Minha mãe precisa de uma transfusão de sangue nas próximas horas. Não há mais tempo a perder", disse. "Uma operação humanitária está em curso e pretende chegar o mais próximo possível dos reféns doentes. A única coisa que sabemos é que ela ocorre no sudeste do país e não se trata de uma missão militar, que levaria à morte dos reféns." Em um apelo ao líder máximo das Farc, Manuel Marulanda, Lorenzo pediu, em espanhol, que os guerrilheiros não ajam como bárbaros, mas como homens. O jovem pediu ainda a Uribe que mantenha a recente disposição para negociações e aos presidentes da América Latina que pressionem, por vias diplomáticas, pela libertação dos reféns. "Apelo aos países que se unam. A esperança ainda existe. É preciso acreditar que as Farc assumirão suas responsabilidades", disse Lorenzo.

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