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Mobilizados pelo TikTok, adolescentes fãs de K-Pop dizem ter 'afundado' comício de Trump

Usuários e fãs de grupos de música pop coreana afirmaram que se mobilizaram e fizeram centenas de milhares de registros para conseguir os ingressos para o comício da campanha de Trump em Tulsa como uma brincadeira

Por Taylor Lorenz , Kellen Browning e Sheera Frenkel
Atualização:

WASHINGTON - A campanha do presidente Donald Trump prometeu enormes multidões em seu comício em Tulsa, Oklahoma, no sábado, mas não conseguiu. Centenas de usuários adolescentes de TikTok e fãs de K-pop (pop coreano) alegam terem sido, pelo menos em parte, responsáveis por isso.

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O presidente da campanha de reeleição de Trump, Brad Parscale, postou no Twitter na segunda-feira, 15, que a campanha recebeu mais de 1 milhão de pedidos de ingressos, mas os repórteres que cobriram o evento observaram que a participação foi bem menor do que o esperado. A campanha também cancelou os eventos planejados para acontecer fora da arena, para uma multidão que não se concretizou.

O porta-voz da campanha, Tim Murtaugh, argumentou que manifestantes na região impediram os apoiadores de Trump de entrar no comício, realizado no BOK Center, com capacidade para 19 mil pessoas.

Simpatizante de Trump em meio a cadeiras vazios durante comício do republicano em Tulsa Foto: Leah Millis/Reuters

Mas a mídia presente noticiou que houve poucos protestos. De acordo com um porta-voz do Departamento de Bombeiros de Tulsa, no domingo, a corporação contabilizou 6,2 mil ingressos digitalizados de participantes do comício (número não inclui equipe de campanha, associados e imprensa). 

Usuários do TikTok e fãs de grupos de música pop coreana (K-pop) afirmaram que se mobilizaram e fizeram centenas de milhares de registros para conseguir os ingressos para o comício da campanha de Trump como uma brincadeira. 

Depois que a conta oficial da campanha de Trump, o @TeamTrump, postou um tuíte pedindo que seus simpatizantes se registrassem gratuitamente usando seus telefones, em 11 de junho, contas de fãs de K-pop começaram a compartilhar as informações com seus seguidores, incentivando-os a se inscreverem no comício - e depois não comparecer.

A ideia se espalhou rapidamente no TikTok, onde vídeos com milhões de visualizações instruíram os usuários a fazer o mesmo, como foi publicado na CNN, na terça-feira. "Ah, não, eu me inscrevi em um comício de Trump e não posso ir", ironizou uma mulher, em um vídeo no TikTok, publicado em 15 de junho.

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Milhares de outros usuários postaram tuítes e vídeos semelhantes no TikTok que acumularam milhões de visualizações. Os representantes do TikTok não responderam imediatamente aos pedidos do New York Times de comentário.

"Isso se espalhou principalmente pelo Alt TikTok - que mantemos muito discretamente, e onde as pessoas fazem brincadeiras e muito ativismo", disse o YouTuber Elijah Daniel, de 26 anos, que participou da 'pegadinha' digital. “O Twitter do K-pop e o Alt TikTok têm uma boa parceria, e com ela espalham informações entre si muito rapidamente. Todos eles conhecem os algorítmos e como podem impulsionar os vídeos para chegar onde querem."

Usuários excluíram vídeos

Muitos usuários excluíram suas postagens após 24 ou 48 horas para ocultar seu plano e impedir que ele se espalhasse pela internet convencional. "A maioria das pessoas deletou seus vídeos após o primeiro dia, porque não queríamos que a campanha de Trump se desse conta", disse Daniel. "Essas crianças são inteligentes e pensaram em tudo."

Os usuários do Twitter, na noite de sábado, foram rápidos em declarar a vitória da campanha nas mídias sociais. "Na verdade, você acabou de ser feito de bobo por adolescentes no TikTok", tuitou a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, em resposta a Parscale, que tuitou alegando que "manifestantes radicais" "interferiram" na participação de simpatizantes no comício.

Steve Schmidt, estrategista republicano de longa data, acrescentou: "Os adolescentes da América deram um golpe selvagem contra o @realDonaldTrump".

"Os esquerdistas on-line e os trolls cantam vitória, achando que de alguma forma afetaram o comparecimento às manifestações, não sabem do que estão falando ou como nossos comícios funcionam", disse Parscale em comunicado no domingo. "Registrar-se em um comício significa que você alterou o status de seu celular e constantemente eliminamos números falsos, como fizemos com dezenas de milhares no comício de Tulsa, no cálculo de nosso possível número de participantes."

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Mary Jo Laupp, de 51 anos, de Fort Dodge, Iowa, disse que estava assistindo usuários negros do TikTok expressarem sua frustração com o fato de Trump querer realizar seu comício no dia 19 de junho, feriado Juneteenth, dia da emancipação dos escravos (o comício acabou adiado para o dia seguinte, 20 de junho). Ela "expressou" sua própria raiva em um vídeo do TikTok no dia 11 de junho - e forneceu um plano de ação.

"Eu recomendo a todos aqueles que querem ver esse auditório de 19 mil lugares com pouca gente ou completamente vazio, ir agora se inscrever para obter os ingressos e deixar Trump ali sozinho no palco", disse Laupp no ​​vídeo.

Quando ela checou o telefone na manhã seguinte, disse, o vídeo estava começando a se tornar viral. Ele teve mais de 700 mil curtidas, acrescentou ela, e mais de 2 milhões de visualizações.

Ela disse acreditar que pelo menos 17 mil ingressos foram requisitados com base nos comentários que recebeu em seus vídeos do TikTok, mas acrescentou que as pessoas que a procuraram disseram que dezenas de milhares foram reservados.

Plateia esvaziada no comício de Trump noBokCenter, em Tulsa; campanha culpou 'manifestantes radicais' Foto: Washington Post photo by Jabin Botsford

Laupp disse que estava "impressionada" e "aturdida" com a possibilidade de que ela e o esforço que ela ajudou a inspirar pudessem ter contribuído para a baixa participação no comício.

"Há adolescentes neste país que participaram desse pequeno protesto de não comparecimento, que acreditam que podem ter um impacto no sistema político de seu país, apesar de não terem idade suficiente para votar no momento", disse ela.

O esforço para privar Trump de uma grande multidão migrou do Twitter e TikTok para várias plataformas de mídia social, incluindo Instagram e Snapchat.

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Erin Hoffman, de 18 anos, do interior de Nova York, disse que ouviu de uma amiga no Instagram sobre a campanha nas redes sociais. Em seguida, ela postou a história no Snapchat e disse que os amigos que viram o post disseram que estavam reservando ingressos.

"Trump está tentando ativamente privar milhões de americanos de muitas maneiras e, para mim, esse foi o protesto que eu pude realizar", disse Hoffman, que reservou dois bilhetes e convenceu um de seus pais a reservar mais dois."Ele não merece a base que recebeu."

Laupp disse que muitas das pessoas que compartilharam seu vídeo adicionaram comentários incentivando as pessoas a adquirir os ingressos com nomes e números de telefone falsos. Na seção de comentários do seu próprio vídeo, os usuários do TikTok trocaram conselhos sobre como adquirir um número do Google Voice ou outra linha telefônica conectada à internet.

"Todos sabemos que a campanha de Trump se alimenta de dados, eles estão constantemente pesquisando esses dados", disse Laupp, que trabalhou em vários comícios da campanha de Pete Buttigieg para a indicação democrata para concorrer à presidente. “Alimentá-los com dados falsos foi um bônus. Os dados que eles pensam ter, os dados que estão coletando desse comício não são precisos."

Funcionários da campanha de Trump disseram neste domingo que muitas pessoas que se inscreveram não eram apoiadores, mas sim 'trapaceiros online'. Um consultor da campanha afirmou que “os dados de troll” ainda eram utilizáveis, alegando que ajudaria a campanha a evitar a mesma armadilha no futuro. O consultor disse que os dados podem ser colocados no sistema para "reforçar a fórmula usada para determinar a participação projetada para comícios".

Laupp acrescentou que várias pessoas que participaram de sua campanha reclamaram que, uma vez que se inscreveram no site do comício com seus números de telefone reais, não conseguiram fazer com que a campanha de Trump parasse de mandar mensagens de texto e mensagens para eles.

Os grupos ligados a fãs de K-pop têm se envolvido cada vez mais na política americana nos últimos meses. Depois que a campanha de Trump, no dia 8 de junho, solicitou mensagens para o aniversário do presidente, no dia 14, fãs do K-pop enviaram um grande fluxo de mensagens de brincadeira.

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E, no início de junho, quando o Departamento de Polícia de Dallas pediu aos cidadãos que enviassem vídeos de atividades suspeitas ou ilegais por meio de um aplicativo desenvolvido para isso, uma conta de K-pop no Twitter reivindicou o crédito por ter travado esse aplicativo enviando milhares "fancam" (filmagens de ídolos de K-pop pelos fãs).

Eles também recuperaram a hashtag #WhiteLivesMatter em maio, enviando-a por spam com intermináveis vídeos de K-pop, na esperança de dificultar que os supremacistas e simpatizantes brancos conseguissem se encontrar e comunicar suas mensagens.

Se a brincadeira de se inscrever falsamente para os ingressos foi mesmo o motivo das cadeiras superiores vazias no comício de Trump ou não, os adolescentes comemoraram na internet do mesmo jeito. No Twitter, várias contas postaram: "a melhor brincadeira de todos os tempos".

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