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Moderação de Seul irrita sul-coreanos

Militares prometem vingança, enquanto civis protestam por considerarem excessivamente branda a reação ao ataque do Norte

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

Sul-coreanos protestaram ontem em Seul contra a resposta de seu país ao ataque realizado na terça-feira pela Coreia do Norte contra a ilha de Yeongpyeong, no qual 4 pessoas morreram e 15 ficaram feridas. Enquanto os civis criticavam a passividade de seu governo, militares foram além. Prometeram vingança."Vamos dar uma resposta à Coreia do Norte cem vezes, mil vezes maior pelas mortes e ferimentos atrozes de nossos soldados", declarou o comandante dos fuzileiros navais, Yoo Nak-jun, no tributo aos dois marinheiros mortos, de 20 e 22 anos. As duas vítimas militares foram enterradas ontem em uma cerimônia transmitida em rede nacional. Pyongyang acusou Seul de usar civis como "escudos humanos" em Yeongpyeong.A manifestação dos militares reuniu cerca de mil pessoas, que queimaram uma bandeira norte-coreana e imagens do ditador Kim Jong-il. "Nós não podemos mais tolerar as provocações bárbaras da Coreia do Norte", disse à TV Al Jazira o soldado reformado Ahan Seung-choon.O grupo de civis se reuniu nos arredores do Ministério da Defesa para exigir que o governo responda aos ataques. O descontentamento com a reação sul-coreana levou à queda do ministro da Defesa na semana passada e se reflete na cobertura realizada pela imprensa local. Um dos mais importantes jornais do país, Chosun Ilbo, publicou editorial na sexta-feira com o título "Coreia do Sul deve parar de agir como um tigre de papel".O editorial ressalta que o Exército sul-coreano prometeu várias vezes pagar à Coreia do Norte em "dobro ou triplo" por suas "provocações", mas nunca cumpriu as ameaças. "Kim Jong-il e seus comparsas devem pensar que a Coreia do Sul é um tigre de papel."A tensão na região poderá se agravar ainda mais a partir de hoje, quando a Coreia do Sul e os EUA dão início a quatro dias de exercícios militares na faixa marítima que separa a península da China. Principal aliado da Coreia do Norte, Pequim está sob pressão para usar sua influência sobre Pyongyang para conter a escalada de violência na região. Mas, dentro do país, grande parte da imprensa, da opinião pública e de analistas acredita que a responsabilidade pelo início do confronto é da Coreia do Sul."Seul ignorou os apelos da Coreia do Norte e realizou disparos que atingiram águas territoriais que os norte-coreanos consideram suas. A região da fronteira marítima é uma área sob disputa, na qual nenhum dos dois lados deveria realizar qualquer ato hostil", afirmou Shen Dingli, professor de Relações Internacionais da Universidade de Fudan, com sede em Xangai.Reação desproporcional. A Coreia do Sul reconheceu que realizou disparos na região antes do ataque do país vizinho, mas ressaltou que eles não tinham por alvo a Coreia do Norte. Apesar de responsabilizar Seul, Shen ressaltou que a reação de Pyongyang foi desproporcional, já que os disparos sul-coreanos não provocaram mortes ou danos materiais.Na imprensa chinesa, sujeita à censura, a informação predominante é a de que a Coreia do Sul deu início ao confronto, interpretação que acaba reduzindo a responsabilidade da China em relação a seu aliado. "A China não pode pedir que a Coreia do Norte não responda a um ataque", ressaltou Shen.Na internet, a maioria dos comentários em fóruns de discussão sobre o assunto dá razão à Coreia do Norte e sustenta que a Coreia do Sul iniciou o confronto. A maior parte dos internautas também vê o conflito como algo que deve ser resolvido pelos dois lados da península, sem a China.Jia Qingguo, da Universidade de Pequim, tem uma visão mais crítica e observa que ainda não está claro de quem é a responsabilidade pelo início da crise. De qualquer maneira, ele observa que a Coreia do Norte agiu de maneira "irresponsável" ao atacar a ilha de Yeongpyeong, provocando a morte de dois militares e dois civis. Em sua opinião, o melhor desfecho para o conflito, sob a ótica chinesa, seria a Coreia do Norte abrir mão de suas ambições nucleares e o Ocidente - em especial os Estados Unidos - dar garantias de que não atacará o país.

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