Moderado Mitt não é assim tão moderado

Conforme considera necessário, o republicano pende para direita ou para esquerda; quem quiser saber como candidato republicano governaria deve analisar quem ele teme

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Por Ezra Klein
Atualização:

WASHINGTON - Em 1991, o então presidente americano, presidente George H. W. Bush, elevou a alíquota marginal do imposto de renda de 28% para 31% para reduzir o déficit. Em 2003, John McCain apresentou ao Senado o primeiro projeto de troca de crédito de carbono para reduzir as emissões. Em 2006, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney usou dólares federais, impostos estaduais e um mandato individual como base para a primeira assistência médica universal estadual bem-sucedida. Em 2008, George W. Bush promoveu e assinou lei prevendo um corte de impostos, o chamado "The Economic Stimulus Act of 2008" para aliviar o sofrimento causado pela recessão. Tenha essas medidas políticas em mente quando analisar o programa apresentado pelo "moderado Mitt" no debate da quarta-feira. Romney prometeu que não elevará um centavo de imposto para resgatar uma dívida muito maior do que a encarada por George H. W. Bush. Não disse absolutamente nada sobre a mudança climática. Afirmou que a reforma da saúde deve ser feita Estado a Estado, mas propôs cortes no Medicaid que impossibilitarão totalmente qualquer Estado do país de fazer o que Massachusetts fez em 2006. Não ofereceu nenhuma ajuda a curto prazo para os desempregados, mas, ao contrário, sua proposta é que os EUA se concentrem em iniciativas a longo prazo, como a independência energética. E novamente proclamou sua fidelidade às promessas orçamentárias, o que significará um corte de 40% no orçamento em geral – exceto nos gastos militares, com a previdência social e o Medicare, em 2016, embora o único corte específico a que se referiu foi no programa PBS News Hour. A lista dos momentos de moderação de Mitt, entretanto, é mais ou menos esta: "Uma regulamentação é essencial", afirmou. "Você não pode ter um livre mercado que funcione se não tem regulamentos". E jurou lealdade ao Medicare, embora queira transformá-lo num sistema em que os aposentados utilizariam um voucher para escolher entre o Medicare e seguradoras privadas.

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Ele negou qualquer intenção de cortar impostos para os ricos, na verdade, para qualquer pessoa, mas não explicou como isso funcionaria diante da sua promessa de um corte de 20% nos tributos em geral. Nos últimos anos, o critério dos americanos sobre o que significa ser um republicano moderado pendeu para a direita, assim como o Partido Republicano. Hoje, se você admite que o presidente Barack Obama provavelmente nasceu nos EUA, que o Tesouro americano provavelmente não daria calote nas dívidas que possui e alguém, em algum lugar, de vez em quando, teria de pagar impostos, então parabéns, você é um republicano moderado! Fato é que, hoje, um republicano moderado é o arquiconservador de alguns anos atrás. Um republicano moderado, hoje, acredita que o mandato individual é inconstitucional, apesar de os republicanos moderados terem vendido a ideia nos anos 90. Hoje, um republicano moderado acredita que não há nenhuma conclusão definitiva sobre o aquecimento global, embora os republicanos moderados tenham liderado a iniciativa para se fazer alguma coisa a respeito. Hoje, para um republicano moderado, os EUA devem tornar permanentes todos os cortes de impostos aprovados por Bush, apesar de os republicanos moderados terem tentado reduzir os cortes em 2001 e 2003, quando o país estava em situação muito melhor para se permitir a tais reduções. Por que essa mudança? Porque hoje os republicanos moderados temem mais a sua base do que os eleitores independentes. Os presidentes americanos tiveram de aprender, como ocorreu com George W. Bush com a reforma da imigração e com George H. W. Bush sobre os aumentos de impostos, que a ira conservadora pode colocar os republicanos no Congresso contra seu programa. Os republicanos no Congresso aprenderam que a ira conservadora pode levar a desafios fundamentais. Os eleitores indecisos, entretanto, estão menos submetidos a provas e são muito menos organizados. Nem todos republicanos devem temer revoltas dos conservadores. Na quarta-feira, o moderado Mitt falou do seu sucesso trabalhando com democratas em Massachusetts. Romney foi muito eficaz ao trabalhar com os democratas em Massachusetts. Não tinha escolha. Os democratas eram maioria e tinham poder de veto no Legislativo e a divisão partidária no Estado é tamanha que ele não esperava vencer a reeleição sem um apoio substancial dos democratas. Romney não é um moderado ideológico. É um executivo pragmático. Quando precisa governar a partir do centro, o faz. Quando necessita pender para a direita, não vacila. Se você deseja saber como ele governará, não ouça o que ele diz. Examine aqueles que ele teme. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO*É JORNALISTA

 

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