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Mohamed Morsi rejeita uniforme de réu e juízo é suspenso

Presidente egípcio deposto em julho fez primeira aparição desde o golpe militar

Por Andrei Netto e correspondente em Paris - O Estado de S. Paulo
Atualização:

PARIS - O presidente eleito do Egito, Mohamed Morsi, deposto por um golpe em 3 de julho, reapareceu em público na segunda-feira, 4, e desafiou a Justiça no Cairo. Réu num processo por "incitação ao assassinato de manifestantes" durante protestos promovidos pela Irmandade Muçulmana em dezembro - em favor da proposta de Constituição -, o islamista reiterou sua legitimidade como presidente egípcio e contestou a legalidade da corte.

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Após se recusar a usar uniforme de réu, Morsi compareceu à primeira audiência do julgamento vestindo terno e aparentando boa saúde. Isolado numa jaula e acompanhado de outros 14 membros da Irmandade, também acusados, o presidente deposto falou aos juízes em tom de desafio. "Sou o presidente da república e esse tribunal é ilegal", afirmou Morsi.

Hostilizado por parte dos presentes, incluindo "jornalistas" que cobriam a sessão, o ex-chefe de Estado reiterou as críticas ao governo interino liderado pelo primeiro-ministro Adli Mansour e pelo ministro da Defesa general Abdel-Fattah al-Sisi. "Foi um golpe de Estado militar e os líderes deste putsch deveriam ser julgados", argumentou Morsi, que corre o risco de ser sentenciado à morte.

Foram as primeiras palavras em público pronunciadas por ele desde a deposição, em julho, quando tanques do Exército foram às ruas atendendo o chamado de milhões de egípcios que pediam a destituição de Morsi em protestos na Praça Tahrir.

Desde então, o país está dividido. Manifestantes ligados à Irmandade Muçulmana mantêm mobilizações há quatro meses exigindo sua restituição. No domingo, dois policiais foram mortos em um ataque na imediações da cidade de Ismailiya. Ontem, novos choques ocorreram no centro do Cairo, mas desta vez não houve relatos de massacres. Um efetivo de 20 mil policiais e soldados reforçou a segurança no Cairo para evitar concentrações de islamistas, como as registradas em Nasr City e na Praça Ramsés, na capital. Após os distúrbios dentro e fora da corte ontem, os juízes decidiram, após pouco mais de uma hora de julgamento, adiar a audiência para 8 de janeiro, sem dar explicações sobre a decisão.

Além do presidente deposto e dos 14 outros réus, a polícia e as Forças Armadas do Egito já prenderam cerca de 2 mil militantes pró-Morsi desde a queda do regime. A maioria integrava a Irmandade Muçulmana ou o partido Justiça e Liberdade, braço político do movimento religioso. A existência das duas entidades foi proibida pelo governo interino, o que na prática significa que não poderão participar das futuras eleições, em data a ser fixada para 2014.

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