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Moradores tentam recriar Mogadiscio

Por Jamil Chade
Atualização:

Mesmo no lugar mais miserável do mundo, existe um centro e uma periferia, ainda mais pobre. Oficialmente, o acampamento está lotado e desde 2008 o governo do Quênia garantiu que não abriria mais vagas. Mas isso não reduziu o número de refugiados chegando a Dadaab. Os que não encontram lugar lá - cerca de 70 mil pessoas - acabam montando suas próprias barracas em locais próximos ao acampamento. Para obter água ou alimentos, precisam fazer longas caminhadas e, ao chegar nos locais de distribuição, sofrem a concorrência dos refugiados que legalmente são recebidos pela ONU. Na periferia, a violência também é uma ameaça. As mulheres, sem nenhuma proteção e sem a presença de homens, são alvos constantes de agressões sexuais. Não existem escolas e os dois postos de saúde não conseguem atender a demanda. No centro de Dadaab, a situação é diferente. Muitos vivem no local há 20 anos e tentam transformar o campo de refugiados em uma cidade. Na rua central há um mercado, ainda que escasso e pobre. Há até um barbeiro, Ibdios. "Depois de tantos anos no mesmo lugar, as pessoas começam a ter necessidades básicas", diz. "Na verdade, a esperança é a de recriar Mogadíscio", conta o dono de uma loja de cosméticos. Não distante de sua loja, homens ainda vendem jumentos, cabras e camelos. No centro do maior campo de refugiados do mundo, alguns chegam a falar como se fossem comerciantes no mercado globalizado. "Estamos passando por uma crise mundial", diz Osman, o dono da loja de cosméticos. E ele tem razão. O único dinheiro que chega ao campo de refugiados é enviado por parentes dos somalis que conseguiram asilo nos EUA e Europa. "Parece que a crise lá é muito grande. Muitos de nossos irmãos estão sem trabalho e não nos mandam mais dinheiro. O resultado é que não tem ninguém para comprar o que vendemos."

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