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Moral islâmica é reforçada pelas autoridades na capital do Irã

No último mês, mais de 500 cafeterias foram fechadas temporariamente por 'mal uso do hijab'; polícia tem autorização de deter mulheres que não estejam seguindo a lei mesmo em espaços privados

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Por Redação
Atualização:

TEERÃ - Com o "bom uso do hijab" (o véu islâmico) e a separação de sexos, a polícia do Irã reforçou neste mês a campanha de pressão contra a população iraniana, e também estrangeira, que não acata com todo o rigor o conceito de moralidade das autoridades

Ao término do Ramadã e começo da temporada de calor, as forças de segurança fecharam provisoriamente cafeterias e restaurantes, detiveram jovens que flertavam nas ruas e perseguiam até mesmo festas em embaixadas de países europeus.

Mulheres caminham em Teerã, capital do Irã, em junho de 2019 Foto: STR/AFP

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O primeiro alerta foi dado ainda durante o mês sagrado dos muçulmanos - que este ano foi de 5 de maio a 3 de junho -, quando a polícia aumentou o cerco à Universidade de Teerã para garantir que as estudantes estavam cobrindo o cabelo e o corpo seguindo as regras, o que gerou protestos. A isto se uniu um aumento das multas as mulheres que dirigem sem o lenço ou aos motoristas que transportavam mulheres que estejam com essa peça nos ombros.

A multa e a apreensão do veículo por alguns dias foi o castigo do arquiteto Ahmad Reza, de 35 anos. Na delegacia, ele disse ter perguntado, irritado, ao policial se não tinha "nada melhor para fazer" do que vigiar o cabelo da esposa dele.

Por causa do chamado "mal uso do hijab" também foram fechadas mais de 500 cafeterias e restaurantes em Teerã, conforme dados divulgados neste mês por Hossein Rahimi, comandante da polícia da capital.

"A atuação contra os que não cumpram a lei islâmica continuará de forma séria e independentemente se os infratores violam esta norma em espaços públicos ou privados", advertiu Rahimi.

Uma das cafeterias afetadas foi a da rede Viuna. Uma loja do norte de Teerã ficou fechada por duas semanas porque algumas clientes não usavam o véu como as autoridades consideram apropriado.

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"Agora, somos mais vigiados e, até que passe um tempo e a situação se normalize, pedimos o tempo todo para que nossas clientes respeitem seu hijab", disse um dos garçons.

A dona de outra cafeteria, que preferiu ser identificada apenas com o primeiro nome, Shirin, revelou que os policias costumam adotar estas medidas depois de ir a um desses locais à paisana com o intuito de mostrar que estão atentos a tudo.

Alguns restaurantes do Shopping Ava, um dos maiores de Teerã, também foram impedidos de funcionar. O lugar é muito frequentado por jovens.

No início desta semana, o perfil do shopping no Instagram publicou duas imagens, uma com o desenho de uma mulher com o hijab e o shopping ao fundo e a outra apenas do prédio e as seguintes legendas: "Esperamos que, com todo o respeito pelos princípios islâmicos, ajude-nos a manter a continuidade" e "Estamos felizes em prestar atenção a todos os elementos islâmicos. Ajude-nos a manter a continuidade".

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Uma forma de muito comum no Irã de uma pessoa mostrar que está interessada na outra é o chamado o "dor-dor", que significa "girar em círculos" em farsi. Resumidamente é quando dois carros andam paralelamente, enquanto os motoristas trocam olhares. Isso também está na mira da Polícia.

De acordo com o comandante da polícia de Teerã, 569 automóveis de alto padrão foram parados e 13 pessoas foram detidas por praticar o "dor-dor" na Andarzgoo, uma rua cheia de lojas e lanchonetes.

A separação de sexos e o uso obrigatório do véu foram duas normas impostas após o triunfo da Revolução Islâmica, em 1979, assim como a proibição do consumo de álcool. Por isso, qualquer festa com homens e mulheres, na qual elas não estejam cobertas e bebidas alcoólicas estejam sendo consumidas estão no radar dos agentes, que podem entrar nas casas e deter os participantes até que paguem fiança.

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Um caso assim ocorreu no início de junho, em Velenyak, um bairro rico de Teerã. Lá, várias pessoas foram detidas em uma festa, entre elas uma diplomata britânica e outra holandesa, que não tiveram a imunidade respeitada.

Agora, a comunidade internacional está preocupada com a nova campanha das autoridades iranianas, segundo reconheceram vários diplomatas. O evento em Velenyak foi qualificado de forma pejorativa pela imprensa oficial como "festa mista", o mesmo termo usado para falar de um evento realizado dias antes na embaixada da Itália, que inclusive teve um vídeo vazado.

O veterano ator iraniano Reza Kianian estava presente, e certa vez ele disse que desde a Revolução Islâmica não houve um dia alegre no Irã.

Parece que essa é a ideia: controlar os poucos espaços de liberdade e de expansão e forçar a população a levar uma vida de recato, sacrifício e luto. / EFE

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