Morales diz que país vive "guerra suja" para desestabilizar seu governo

Evo Morales discursa durante as comemorações do Dia da Raça, que acabou se tornando um ato de apoio ao presidente

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse nesta quinta-feira que o país vive uma "guerra suja" para desestabilizar seu governo. "Querem nos assustar, nos intimidar, nos amedrontar psicologicamente", afirmou Morales, em discurso durante as comemorações do Dia da Raça. O evento, que fechava o Encontro Continental de Povos e Nacionalidades Indígenas realizado em La Paz, acabou se tornando um ato de apoio ao presidente, que enfrenta momento difícil. Em discurso inflamado, para uma platéia formada em sua maioria por indígenas de todo o continente, Morales acusou "alguns setores conservadores" e a imprensa de patrocinar o clima de instabilidade vigente no país. "Antes nos acusavam de terroristas e narcotraficantes, agora nos acusam de ignorantes e loucos", reclamou. Essa semana, representantes do governo foram forçados, diversas vezes, a negar rumores de golpe de Estado no país. A mobilização reuniu cerca de 10 mil pessoas nessa praça e na praça vizinha, de San Francisco, mas o número de presentes ficou longe dos 100 mil que as autoridades anteciparam na véspera. Durante a cerimônia, lideranças indígenas disseram que estarão "vigilantes" para proteger o presidente. Durante a marcha para a Praça São Francisco, onde foi realizada a cerimônia, os indígenas empunhavam cartazes e cantavam palavras-de-ordem de apoio a Morales. Na declaração final do encontro, se comprometeram com a luta contra o neoliberalismo e pela nacionalização dos recursos naturais. Em seu discurso, Morales afirmou que "ninguém vai parar a nacionalização do gás" em curso no país. Ao lado do presidente estavam representantes das forças armadas "Até agora, nossos recursos naturais foram saqueados e nossos irmãos foram explorados. Precisamos mudar isso", bradou o presidente da Bolívia. A cerimônia ganhou cores de evento partidário quando, antes do início dos discursos, uma banda folclórica tocou a música do partido de Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS). Ao lado do presidente, estavam ministros e representantes das forças armadas, em uma demonstração de que um eventual golpe não será apoiado pelo exército. O mestre de cerimônias era o porta-voz da presidência, Alex Contreras. Morales voltou a defender uma assembléia constituinte originária, que não esteja submetida aos outros poderes do país. No início do mês, a Suprema Corte definiu que a constituinte seria derivada, ou seja, teria que respeitar os poderes estabelecidos. "Até agora, já tivemos 18 assembléias constituintes, mas todas derivadas, que não conseguiram mudar nada, apenas reformar. Reformas, podemos fazer no Congresso", explicou. Entre os convidados para compor o palco, ao lado do presidente, estava o ativista francês José Bové, famoso por participar de conflitos ao lado de agricultores em todo o mundo. Em 2003, Bové chegou a ser preso no Brasil por participar da depredação de uma plantação de arroz transgênico no Rio Grande do Sul. Em entrevista ao Estado, ele explicou que participava do encontro indígena como representante da via campesina. "Grande parte do movimento indígena é formada por membros da via campesina. Eles são a força, a resistência contra o modelo neoliberal, a OMC e os tratados regionais de comércio", afirmou.

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