Morales e Chávez reforçam laços em ato na região de Chaparre

Os dois governantes assinarão vários acordos de ajuda venezuelana à Bolívia, especialmente nos setores agrícola e energético

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Por Agencia Estado
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Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, fortaleceram suas alianças, com duras críticas aos Estados Unidos, durante um ato popular organizado pelo governo boliviano na região de Chapare. Em um dia marcado pelas altas temperaturas nesta pequena localidade do departamento de Cochabamba e junto ao vice-presidente de Cuba, Carlos Lage, os dois governantes foram recebidos por milhares de camponeses, em sua maioria das etnias aimara e quíchua. A maioria dos presentes veio a Chaparre em caminhões e ônibus, provocando um engarrafamento de 30 quilômetros na principal estrada federal da região. Alguns caminharam várias horas até o local do ato. Há menos de um ano, a estrada era bloqueada freqüentemente pelos manifestantes liderados por Morales em protestos pela legalização da coca. Na época, várias pessoas morreram ou sofreram ferimentos nos confrontos com as forças policiais e militares que erradicam a planta com o apoio logístico dos Estados Unidos. Agora, o panorama é muito diferente. As autoridades aterrissaram na base de Chimoré, financiada por Washington e onde até pouco tempo era habitual a presença do pessoal do grupo antidrogas americano. Em seu discurso, Morales aproveitou para agradecer ao governo dos Estados Unidos "por construir esse aeroporto". Depois, num tom mais sério, lembrou sua dolorosa experiência como líder sindical na região. "Desses dias de tristeza, chegamos a um dia de festa. Antes, os governos nos faziam chorar de repressão e agora choramos de emoção", disse. De Chimoré, os três governantes saíram em caravana para saudar os milhares de seguidores que os seguiram até chegar à cidade de Sinahota, onde aconteceu o principal ato do dia. "Ianques go home" Morales aproveitou o comício em homenagem ao presidente cubano, Fidel Castro, para lançar a campanha para a Assembléia Constituinte que será composta nas eleições em julho e começará a trabalhar em agosto. "O companheiro Fidel gostaria muito de estar aqui com vocês", desculpou-se Lage, ao justificar a ausência de Fidel e enviar aos presentes "uma saudação fraternal" do governante cubano. Chávez, que assim como as demais autoridades vestia um poncho e um gorro andinos, se referiu ao governo de Washington ironicamente, ao cantar uma canção cujo refrão é "Ianques go home" (vão para casa Ianques). O presidente venezuelano denunciou mais uma vez supostas tentativas "imperialistas" de tirá-lo do poder e antecipou que a conspiração "já começou aqui dentro", na Bolívia. Chávez justificou sua afirmação pelas recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em relação ao suposto enfraquecimento da democracia na Bolívia e na Venezuela. Morales foi mais longe ao gritar em quíchua "Huañuchun ianques" (que morram os ianques), o grito de guerra dos cocaleiros, além de criticar a política externa de Bush e pedir a extradição do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que está sendo processado na Bolívia pela morte de 60 pessoas em 2003. Chávez anunciou um crédito de US$ 24 milhões para os produtores de soja, leite e banana da região, e ofereceu 5 mil bolsas de estudos e entregou um lote de 520 computadores para os colégios locais. No encerramento do ato, Morales e Chávez viajaram a La Paz, onde concretizarão os principais convênios de ajuda venezuelana à Bolívia, especialmente nos setores energético e agrícola.

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