LA PAZ - Manifestações a favor e contra a nova candidatura do presidente Evo Morales a um quarto mandato consecutivo foram registradas na quarta-feira 21 na Bolívia, em um reflexo da polarização política vivida no país.
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Em razão dos protestos, as principais cidades bolivianas, como La Paz, Cochabamba e Santa Cruz, permaneceram com ruas e avenidas bloqueadas por moradores e ativistas, mas não foram registrados incidentes maiores.
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Em El Alto, cidade vizinha de La Paz e antigo nicho eleitoral de Evo, o líder centrista Samuel Doria Medina comandou uma maciça marcha de seu partido, Unidade Nacional, na qual exigiu "respeito ao voto" do referendo que, em 2016, negou ao presidente de esquerda a possibilidade de uma nova candidatura.
Mas no fim de 2017, uma sentença do Tribunal Constitucional deu a Evo a permissão para se candidatar indefinidamente, medida que provocou protestos da oposição e de organizações civis do país.
Em uma avaliação da greve convocada pelos opositores, o ministro da Presidência, Alfredo Rada, disse em entrevista coletiva que "não alcançou a presença em massa de cidadãos nem impacto suficiente para paralisar as atividades produtivas, de serviços e comerciais".
Luis Fernando Camacho, dirigente do poderoso comitê civil da região de Santa Cruz, a mais próspera do país, e contrário à reeleição de Evo, considerou que "o povo boliviano está mobilizado, há um sentimento de fazer respeitar o voto e a democracia".
Em um ato em uma zona rural de Santa Cruz, Evo se manifestou "surpreendido" diante de "tantas ofensas, tantas humilhações, tantas mentiras (da oposição). Aos irmãos (das organizações afins ao governo): sigam mobilizados para continuarmos com nosso processo".
O governante Movimento ao Socialismo (MAS) organizou maciças concentrações em Santa Cruz, La Paz e Cochabamba em apoio à candidatura de Evo. "Nós vamos defender esse processo, vamos governar entre nós, não podemos ser governados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)", disse o ministro de Desenvolvimento Rural, Eugenio Rojas, durante uma concentração na capital boliviana.
As mobilizações dos dois lados foram convocadas dois anos após o referendo que negou ao presidente, por uma margem estreita, sua aspiração de concorrer novamente à reeleição.
Evo, de 58 anos e no poder desde 2006, se autoproclamou em dezembro candidato para as eleições de dezembro de 2019, na qual serão renovados o presidente, o vice-presidente e o Congresso para o período 2020-2025.
Cenário
Uma pesquisa recente de um jornal local, o qual o governo considera opositor, disse que a popularidade de Evo caiu 22%.
"Evo ainda goza de certa indulgência internacional, que já foi perdida por (Nicolás) Maduro pelo uso da força para neutralizar movimentos contestatórios", disse o analista político Jorge Lazarte.
No entanto, o especialista não descartou que setores rígidos do governo optem por pressionar para se manter no poder e usar policiais e militares para reprimir as manifestações da oposição.
"Está nas mãos de Evo Morales decidir o que fazer: preservar seu legado, deixando sua aspiração de recandidatura, ou continuar (no governo) com um alto custo" político, afirmou Lazarte. / AFP