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Morre a fundadora da revista L´Express

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma das grandes jornalistas francesas, madame Françoise Giroud, morreu aos 86 anos. Ainda curiosa e fascinada, ela foi à Ópera na quinta-feira à noite e, na saída, caiu. Três dias em coma. Até domingo à tarde. Sua vida foi magnífica. Nasceu em Genebra, em 1916. Sem pai, saiu da escola aos 16 anos. Começa a vida em Paris como estenógrafa. Mas essa estenógrafa era inteligente e se torna roteirista da obra-prima de Jean Renoir, A Grande Ilusão. Resistente em 1940, ela foi para a prisão em Fresnes. Mas desde a libertação, dedicou-se ao jornalismo. Ela dirigiu a revista Elle durante sete anos. Ela tinha apenas 37 quando fundou e dirigiu a revista L´Express com Jean Jacques Serva-Chreober. Foi a única mulher a dirigir uma revista durante 20 anos. E que jornal! Tiragem de 700.000 exemplares. Um papel político crucial por seu engajamento de esquerda, ao lado, particularmente, de Pierre Mendés-France. Mais tarde, ela deixa momentaneamente o jornalismo, já que uma pessoa tão apaixonada não pode negligenciar a política. E ela foi secretária de Estado em duas ocasiões, nos tempos de Giscard d´Estaing, uma vez da "condição feminina" e, depois, da "cultura". Certamente, Giscard d´Estaing não é um homem de esquerda. Mas Françoise Giroud tinha muito amor à vida para não ser ambiciosa a ponto de, às vezes, esquecer suas convicções. Mais do que falar mal de uma pessoa marcante e de uma coragem impressionante, isso é uma tentativa de assinalar um dos pontos mais delicados de sua carreira. Ela era extremamente dura quando necessário. Se a maior parte dos jornalistas, homens e mulheres, do L´Express ainda são fascinados por essa mulher, digamos que era melhor evitar contrariá-la. É necessário dizer que ela manejava as palavras à perfeição. Grande jornalista, pela maneira como escrevia também e às vezes pela sinceridade. Quando Simone de Beauvoir morreu, Giroud declarou: "Ela se vestia mal." De um candidato à presidência, o gentil Jacques Chaban-Delmas, ela escreveu: "Não dá para jogá-lo em uma ambulância." Seu velho amigo, Pierre Mendés-France, conhecia os deslizes e as complicações de Giroud. Em 1972, ela escreveu um livro, cujo título, Si je mens (Se eu mentir), foi inspirado em uma canção infantil. E Mendés-France, contemplando a obra, disse: "Madame Françoise Giroud corria riscos." Com sua capacidade de observação, ela percebeu muito rápido que o feminismo era um dos grandes eventos políticos deste século. E essa mulher, que sempre trabalhou com homens, tanto no comando quanto trabalhando ao lado deles, vai defender o feminismo - igualdade de trabalho, salário e tudo mais. Seria necessário reconhecê-la como feminista, mesmo título dado a Simone de Beauvoir, de Gisèle Halimi e tantas outras? Claro que não. Ela avaliou a grandeza deste jogo e ajudou, de um golpe, as feministas. Devemos a ela uma das frases mais inteligentes sobre a luta das mulheres: "O problema das mulheres será resolvido no dia em que conseguirmos ver uma mulher medíocre em um posto importante." O momento impressionante de sua trajetória é a terceira parte de sua carreira. Em 1981, ela deixou para trás a sua cumplicidade com a direita para se reaproximar de François Mitterrand, que acabara de ser eleito presidente. E lá, em lugar de repousar como faz um soldado valente e coberto de medalhas, ela era mais ativa que nunca. Ela voltou a ser jornalista, mas cronista e não mais diretora. Fazia maravilhas. Criticou televisão na revista de esquerda, Le Nouvel Observateur. E escreveu. Os livros se sucediam. Coletâneas, notas nos guias Tout Paris, que ela conhecia como ninguém, romances. O último, Les Taches du Leopard, será lançado em fevereiro. Biografias: Marie Curie, Alma Mahler, Lou Andréas Salomé, Jenny Marx, Clemenceau, o costureiro Christian Dior. Belos trabalhos. Até seus últimos momentos, ela viveu como uma mulher jovem. Saía de noite, recebia, ia a encontros. Ela encantava por sua vivacidade, sua gana de viver, de compreender, de conhecer, de amar e detestar. O grande dramaturgo francês Molière morreu em cena, no palco, interpretando a comédia O Doente Imaginário. Françoise Giroud morreu em dois grandes palcos. O do teatro, já que ela havia ido à Opera. E o grande palco da vida, que ela amou loucamente.

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