Morre aos 90 anos Li Peng, ex-premiê da China acusado por massacre na Praça da Paz Celestial

Obituário da agência estatal de notícias 'Xinhua' destaca a importância da ações de Li em 1989, que lhe renderam o apelido de 'açougueiro de Pequim', para 'parar a desordem e apaziguar a agitação contrarrevolucionária'

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Por Redação
Atualização:

PEQUIM - O ex-primeiro-ministro da China Li Peng, conhecido por sua responsabilidade na repressão dos protestos na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim em 1989, morreu aos 90 anos, informou nesta terça-feira, 23, a agência estatal de notícias Xinhua.

"Ele morreu na (segunda-feira) 22 de julho de 2019 às 23h15 (12h15 de Brasília), após uma doença cujo tratamento se mostrou ineficaz", informou a agência, que qualificou Li como um "membro excepcional do Partido Comunista chinês". 

Ex-premiê chinês Li Peng morreu aos 90 anos; ele foi apelidado de 'açougueiro de Pequim' pela resposta sangrenta resposta aos protestos em 1989 Foto: EFE/EPA/SASA STANKOVIC

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"Sua morte é uma grande perda para o Partido e para o país. Devemos aprender com seu espírito revolucionário, sua moralidade nobre e seu refinado estilo de trabalho (...). O camarada Li Peng é imortal!", destacou o obituário.

Li, que ocupou o cargo de 1987 a 1998, ordenou, com o beneplácito do então líder supremo do país, Deng Xiaoping, que o Exército acabasse com os protestos de 1989, deixando um rastro de mortes cujo número total ainda é desconhecido. O então primeiro-ministro recebeu a alcunha de "açougueiro de Pequim" por sua sangrenta resposta aos protestos.

Li era apontado como um fervoroso partidário de acabar por todos os meios com os protestos civis, já que os considerava uma grave ameaça para a sobrevivência do regime, algo que lhe valeu a oposição da facção reformista do Partido Comunista da China, liderada pelo então secretário-geral Zhao Ziyang.

A ala dura de Li se impôs no debate interno, o que desembocou na declaração da lei marcial em Pequim, na intervenção do Exército e na queda em desgraça de Zhao.

Para lembrar

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Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, soldados encerraram sete semanas de protestos e greves de fome de estudantes e trabalhadores que exigiam o fim da corrupção e mais democracia.

Li Peng permaneceu no cargo por quase uma década depois da repressão, que supostamente teria matado entre 400 e mais de 1.000 pessoas, números que variam segundo as fontes.

Seu papel em restaurar a ordem na época, no entanto, foi saudado nesta terça-feira pelo regime.

Em imagem de 2012, o então vice-presidente chinês Xi Jinping (1ª fila, 2º à dir.) e o ex-premiê Li Peng (1ª fila, 1º à esq.) participam de Congresso do Partido Comunista Foto: REUTERS/Jason Lee

"Durante a turbulência política da primavera e do verão de 1989 (...), o camarada Li Peng (...) adotou medidas decisivas para parar a desordem e apaziguar a agitação contrarrevolucionária", comentou a Xinhua.

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"Ele estabilizou a situação interna e desempenhou um papel importante nesta grande luta pelo futuro do partido e do país", ressaltou a agência, ecoando o argumento do Partido Comunista Chinês de que a ordem social era indispensável para dar prosseguimento ao desenvolvimento econômico. 

O próprio Li Peng defendeu em diversas ocasiões sua decisão de retirar os manifestantes pela força. "Sem essas medidas, a China teria enfrentado uma situação ainda pior do que na antiga URSS ou no leste europeu", disse ele em uma visita à Áustria em 1994, em um momento em que o isolamento da China seguindo os eventos de 1989 estava começando a desaparecer.

Li, no entanto, não mencionou esse episódio na autobiografia que publicou em 2014, já que as experiências que relata vão até 1983, ano no qual chegou ao cargo de vice-primeiro-ministro da China.

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Após seu período como primeiro-ministro, Li trabalhou até 2003 como presidente do Comitê Permanente da Assembleia Nacional Popular, o principal órgão legislativo chinês. / AFP e EFE

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