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Morre Claudio Bonadio, conhecido como o ‘Sergio Moro’ da Argentina

Juiz federal ganhou fama por levar Cristina Kirchner ao banco dos réus por diversos casos de corrupção

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Por Redação
Atualização:

BUENOS AIRES - O juiz federal argentino Claudio Bonadio morreu na terça-feira, 4 de fevereiro aos 64 anos, em decorrência de um câncer. Ele era conhecido como uma espécie de “Sergio Moro argentino” por comandar uma versão da operação Lava Jato no país, e  por ter levado a ex-presidente Cristina Kirchner ao banco dos réus. 

Bonadio era o responsável por vários processos contra Cristina que tramitam na Justiça da Argentina, entre eles os chamados “cadernos da corrupção”, que investigava uma rede de subornos que envolvia empresários e ex-funcionários do governo de Cristina Kirchner (2007-2015), e o caso “Dólar futuro”, em que ela responde por irregularidades na venda de dólar futuro pelo Banco Central argentino durante seu segundo mandato para impedir a subida do dólar. 

Claudio Bonadio é o juiz argentino encarregado por investigações contra Cristina Kirchner Foto: AP Photo/Natacha Pisarenko

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Ele foi o primeiro juiz a convocar a ex-presidente e atual vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner para investigação, além de ser quem mais frequentemente a processou e a intimou a prestar depoimentos.

"Nos últimos anos, trabalhei muito, trabalhamos juntos por vinte anos", disse Monica, sua secretária, entre soluços, confirmando ao canal TN a morte que ocorreu na casa onde o magistrado morava na capital argentina.

Bonadio havia sido operado de um câncer no ano passado e havia acabado de solicitar uma prorrogação de sua licença até 1º de março. As causas de sua morte não foram relatadas. "Ele era muito reservado", explicou sua secretária.

Investigação do caso AMIA

Bonadio estava na vanguarda de outras causas ressonantes, como a investigação atentado à associação judaica Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), ocorrido em 1994, o pior ataque terrorista perpetrado na Argentina, no qual 85 pessoas morreram e cerca de 300 ficaram feridas. Nesse caso, ele foi afastado pela Câmara Federal, que o criticou por falta de imparcialidade.

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Mural com os nomes das vítimas do atentado no edifício da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, na véspera do aniversário de 25 anos do ataque, que deixou 85 mortos e 300 feridos. Foto: Enrique García Medina/EFE

A ex-presidente tentou, sem sucesso, afastar Bonadio através do Conselho da Magistratura, onde o juiz acumulou quase 50 reclamações por mau desempenho e preconceito.

O Juntos pela Mudança, a aliança do ex-presidente Maurcio Macri, emitiu uma declaração lamentando a morte do juiz. "É uma enorme perda para a Justiça", disse Graciela Ocaña, líder do partido.

"Bonadio era um juiz e um partido, uma pessoa que causou muitos danos e representou uma parte muito sombria da Justiça morreu, eu gostaria que ele pagasse pelo que fez", disse Gregorio Dalbón, defensor de Kirchner, à C5N.

Ele chegou ao cargo graças a nomeação do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) depois de ter servido como secretário adjunto de Assuntos Jurídicos e Técnicos do então chefe de gabinete Carlos Corach durante o menemismo.

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Seu nome foi mencionado como um dos "juízes do guardanapo", como eram conhecidos alguns poucos magistrados que teriam sido denunciados pelo ex-ministro da Economia Domingo Cavallo em um guardanapo escrito por Corach como "amigos do governo".

Kirchner o chamou de "juiz do atirador" em referência a um assalto sofrido pelo magistrado em 2001, no qual atirou em dois ladrões na rua.

Bonadio a processou pelo menos cinco vezes, citou dezenas de inquéritos e emitiu várias vezes a detenção preventiva que nunca foi efetivada, por causa dos privilégios políticos de Cristina Kirchner, primeiro como presidente, depois como senadora e agora como vice-presidente.

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Os Cadernos de Corrupção

Imagem divulgadapelo jornal'La Nacion' de um dos cadernos do motoristaOscar Centeno Foto: AFP PHOTO / LA NACION / HO

"Os cadernos da corrupção" são um processo que teve início em agosto deste ano, com base nas anotações feitas por Oscar Centeno, o motorista de Roberto Barattaum ex-ministro dos Kirchner, que durante mais de uma década anotou as viagens que fez levando milhões de dólares de supostas propinas de empresários para altos funcionários.

Cópias dos cadernos, cujos originais teriam sido destruídos, foram entregues ao jornal "La Nación", que as entregou à Justiça. Ex-militar expulso do Exército, Centeno foi ouvido pelo juiz Bonadio no início de agosto e fez uma série de denúncias. / AP e AFP

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