Morre Edén Pastora, ex-guerrilheiro nicaraguense

O líder, que era próximo ao presidente Daniel Ortega e era conhecido como ‘Comandante Zero’, sofreu um enfarte aos 83 anos

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Por Redação
Atualização:

MANÁGUA - O lendário ex-guerrilheiro nicaraguense Edén Pastora, conhecido como “Comandante Zero”, morreu após sofrer um enfarte aos 83 anos enquanto estava internado em um hospital, informaram seus parentes nesta terça-feira, 16.

Pastora morreu nas primeiras horas da manhã em decorrência de "um ataque cardíaco repentino", depois de passar vários dias no Hospital Militar de Manágua, segundo seu neto Álvaro Pastora.

Em imagem de 2008, o presidente Daniel Ortega (E) ao lado de Edén Pastora, em Manágua Foto: Miguel Alvarez/AFP

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O líder, que era próximo ao presidente Daniel Ortega, recentemente havia sido internado após sofrer uma recaída de uma broncopneumonia, como conta o site de notícias Nicarágua Investiga.

Ao mesmo site, um dos seus filhos, Álvaro Pastora, disse que seu pai foi tratado como se tivesse covid-19, embora não tenha sido testado para averiguar se era portador do novo coronavírus, que atinge fortemente a Nicarágua.

Vida guerrilheira

O ex-guerrilheiro trabalhava para o governo Ortega no desenvolvimento da Bacia do Rio San Juan, situada na fronteira com a Costa Rica, local que tem sido palco dos conflitos fronteiriços entre esses dois países.

Pastora nasceu em 15 de novembro de 1936 em Ciudad Darío (norte), estudou em um colégio jesuíta e mudou-se para o México para estudar medicina na Universidade de Guadalajara, embora não tenha terminado seus estudos, voltando à Nicarágua em 1959.

Novamente no país de origem, ele se juntou à guerrilha Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, de esquerda) durante a luta contra a ditadura de Anastasio Somoza, terminada em 1979 após revolta popular.

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Em agosto de 1978, o Comandante Zero ganhou notoriedade ao liderar o ataque ao Palácio Nacional, onde ficava a Assembleia Nacional (parlamento), libertando dezenas de militantes da FSLN ao trocá-los por reféns, incluindo parentes de Somoza.

No início da Revolução Sandinista, Pastora foi vice-ministro do Interior, mas deixou o cargo triste ao denunciar o que seria um alinhamento com Cuba e a União Soviética do governo chefiado pelo atual presidente, Daniel Ortega.

Opositor e aliado

Em 1981, depois de romper com os sandinistas, Pastora se estabeleceu na Costa Rica e criou a Aliança Revolucionária Democrática (ARDE), que retomou a luta armada para combater seus ex-companheiros do sul da Nicarágua.

Em 1984, durante uma entrevista coletiva, ele foi alvo de um ataque na cidade de La Penca, norte da Costa Rica. Ele não foi ferido, mas 11 pessoas morreram, incluindo vários jornalistas.

Após a derrota eleitoral sandinista em 1990, Pastora permaneceu na Costa Rica, onde obteve cidadania e se dedicou à pesca e ao turismo.

Ao retornar à Nicarágua, ele entrou na vida política e, em 1996, tentou concorrer à presidência, mas foi inibido pelo Conselho Eleitoral Supremo (CSE) por ter dupla nacionalidade, nicaraguense e costa-riquenha.

Depois de anos de distanciamento do FSLN, Pastora se reconciliou com Ortega quando ele voltou ao poder em 2007, e o defendeu das acusações de seus rivais de ser um ditador.

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"Lutei contra os erros políticos e morais que colocavam em perigo o Estado revolucionário com uma arma na mão, à frente de milhares de homens. Agora (que Ortega) está fazendo isso (bem), seria inconsequente com tudo o que defendia" se eu o criticasse, Pastora disse em uma entrevista à agência France-Presse, em 2008.

O ex-guerrilheiro estava no centro de uma disputa de fronteira entre a Nicarágua e a Costa Rica que surgiu em outubro de 2010, após as obras de dragagem do Rio San Juan, sob sua responsabilidade.

A Costa Rica acusou a Nicarágua de fazer incursões militares em seu território e de lançar sedimentos que causaram danos ambientais. Em 2018, o Tribunal Internacional de Justiça condenou a Nicarágua a pagar uma multa milionária pelo caso.

A pedido da Costa Rica, no meio do conflito, Pastora foi incluído pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) na lista dos mais procurados. O país o acusava de invasão do seu território. "Várias vezes tive que desempenhar o papel de menino mau", mas "continuem a me acusar, caso queiram", Pastora se defendeu./AFP

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