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Morre líder da Al-Qaeda no Iraque; terrorista egípcio é substituto mais cotado

Segundo previsões de militares americanos, Abu al-Masri deve ser o próximo líder da organização no Iraque; alguns analistas discordam

Por Agencia Estado
Atualização:

A morte do líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, deixa em aberto uma questão que poucas pessoas parecem aptas a responder: quem será o substituto do terrorista no comando da organização no país. Segundo previsões de militares americanos, o candidato mais cotado para o cargo é egípcio Abu al-Masri. Para o General William Caldwell, al-Masri é o sucessor "lógico" de Zarqwai. Caldwell, o principal porta-voz dos militares americanos no Iraque, informou que al-Masri pode ter vindo ao Iraque em 2002, depois de ser treinado no Afeganistão. Sua missão, explicou o militar, seria criar uma célula da Al-Qaeda em Bagdá. O terrorista é especialista na construção de bombas de beira de estrada, a principal causa de morte de militares americanos no Iraque. A interpretação sobre a nomeação de al-Masri, no entanto, não bate com todas as expectativas sobre quem seria o novo terrorista mais procurado do Iraque. Um exemplo: segundo o informe militar que anunciou a morte de Zarqawi, seu conselheiro espiritual Abu Abdul-Rahman al-Iraqi estaria entre as vítimas do bombardeio americano contra a casa em que o terrorista estava escondido. Mas o informe da Al-Qaeda divulgado nesta quinta-feira confirmando a morte de Zarqawi tinha a assinatura de al-Iraqi, o que levanta dúvidas sobre a morte do militante. Para um especialista em terrorismo, a identificação feita pelo exército americano pode estar equivocada. "Para mim, se eles soltaram um pronunciamento assinado por Abu Abdul-Rahman al-Iraqi, então ele continua por aí. E, como ele era o principal representante da Al-Qaeda no Iraque abaixo de Zarqawi, então ele é o novo líder", disse o consultor em terrorismo Evan Kohlmann, do site Globalterroralert.com. "Abu Abdul-Rahman al-Iraqi nunca foi identificado como um líder espiritual, mas sempre como um líder militar", completou. Ataque aéreo Segundo as informações divulgadas pelo comando do exército americano, Zarqawi foi encontrado depois que a inteligência iraquiana rastreou os passos de al-Iraqi, um suposto conselheiro espiritual do líder terrorista. De acordo com as autoridades, a isca foi encontrada semanas atrás, com a ajuda de "uma fonte interna da rede de Zarqawi". "Nós conseguimos seguir al-Iraqi, monitorar seus movimentos e identificar seus contatos com al-Zarqawi", disse o general Caldwell. "Ontem (quarta-feira) os dois entraram em contato às 6h15, e foi quando tomamos a decisão de fazer o bombardeio e eliminar ambos", finalizou o porta-voz. Dois caças americanos F-16 foram abortados de suas missões e redirecionados para o local em que os terroristas estavam, na conflituosa província de Diyala, a nordeste de Bagdá. As aeronaves acertaram a casa com dois mísseis de 227 quilos. "O ataque aéreo certeiro foi realizado às 18h15 (11h15 de quarta-feira em Brasília) contra seu esconderijo de Hibhib, onde estavam abrigados vários de seus ajudantes", disse comandante-em-chefe das tropas americanas no Iraque, George Casey. Além de Zarqawi e de al-Iraqi, dois assessores do líder, uma mulher e uma criança também morreram em decorrência do ataque. O terrorista jordaniano pôde ser identificado graças a suas impressões digitais, tatuagens e cicatrizes, informou Casey. Ajuda jordaniana O governo jordaniano também forneceu informações que conduziram à morte de Al-Zarqawi na noite de quarta-feira, esclareceu nesta quinta-feira o porta-voz do governo de Amã, Nasser Yueideh. No entanto, Yueideh destacou que "foi iraquiana" a operação que matou Al-Zarqawi, um homem condenado quatro vezes à morte na Jordânia pela realização ou a preparação de vários atentados terroristas. "Todas as partes interessadas em perseguir Al-Zarqawi cooperaram em tarefas de espionagem durante muitos meses em suas tentativas de localizá-lo, e os serviços jordanianos tomaram parte destas (tarefas)", disse o porta-voz. Repercussões O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, qualificou a morte de al-Zarqawi de "notícia muito boa" e afirmou que isso marca um momento importante para o Iraque. Em reunião com seu governo, Blair afirmou que a morte de al-Zarqawi é "um golpe" contra a organização terrorista Al-Qaeda e parabenizou as tropas americanas, britânicas e iraquianas, assim como o resto da coalizão, "pelo grande trabalho que estão fazendo no Iraque para apoiar o novo governo recém-eleito democraticamente". Já o presidente americano, George W. Bush, afirmou que o terrorista jordaniano "encontrou seu próprio fim" e disse que sua morte é uma vitória na "guerra contra o terrorismo". Bush acrescentou que a morte do líder da Al-Qaeda no Iraque oferece uma possibilidade de "mudança de rumo" no futuro do Iraque. Em comunicado lido no "Jardim das Rosas" da Casa Branca, o presidente, que soube da notícia na madrugada de quarta para quinta-feira, pediu "paciência" aos americanos e previu um aumento da violência por causa da morte de Zarqawi. Cautela Para muitos especialistas em terrorismo, no entanto, a estrutura da Al-Qaeda permitirá que seus sucessores continuem com a violenta campanha do grupo no Iraque. A morte do líder extremista provocou alívio geral, mas praticamente todos os especialistas foram cautelosos com relação às conseqüências do episódio. "Isso é grande demais. Todo mundo sabe que não acabou, mas isso (a morte de Zarqawi) é um acontecimento muito importante", comentou o porta-voz do Comando Central dos EUA, capitão Frank Pascual. "A guerra ao terror não acaba hoje. O conflito e os distúrbios persistirão. Nesse episódio, porém, foi cortada a cabeça de uma organização nociva", acredita ele. Visão estratégica Apesar de diversos assessores de Zarqawi continuarem à solta, especialistas em "terrorismo" como o professor de estudos em defesa no King´s College, de Londres, Michael Clarke, opinaram que a perda da visão estratégica de Zarqawi tornaria sua morte mais significativa do que a do próprio Bin Laden. Segundo Clarke, Bin Laden não cuida da parte estratégica. "Já Zarqawi é um estrategista de campo. Ele lidera no front, tanto em termos de bravura quanto de crueldade", especulou. Outros especialistas disseram ter certeza de que os rebeldes iraquianos, especialmente os sunitas liderados por Zarqawi, já esperavam por esse dia. Um analista militar iraquiano do Centro de Pesquisa do Golfo Pérsico, Mustafa Alani, disse acreditar que a Al-Qaeda no Iraque provavelmente sobreviverá à perda de Zarqawi e de alguns de seus assessores. "Não devemos exagerar o valor desse ataque. Não há dúvidas de que se trata de uma vitória moral que afetará a força e as operações do grupo. Mas organizações como a Al-Qaeda no Iraque sempre se preparam com antecedência para o dia em que seus líderes forem mortos ou presos. Sempre há alguém pronto para substituí-los", explicou. Na Jordânia, o irmão mais velho de Zarqawi, Sayel al-Khalayleh, disse que sua família já estava preparada para a morte de seu irmão. "Nós já havíamos previsto que ele se tornaria um mártir. Esperamos que ele una-se a outros mártires no céu", afirmou. Decapitação Al-Zarqawi foi responsabilizado, entre outras coisas, pela decapitação do refém britânico Ken Bigley, seqüestrado no Iraque em 2004 e cujo corpo ainda não foi recuperado. O irmão da vítima, Stan Bigley, mostrou sua satisfação pelo terrorista "ter sido eliminado da face da Terra, não só por Ken, mas por toda as pessoas que ele assassinou". Por sua parte, testemunhas citadas pela televisão iraquiana na mesma aldeia disseram que "a operação durou várias horas e produziu um estado de anarquia na área onde aconteceu o ataque".

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