Morre veterano dissidente cubano Gustavo Arcos

Arcos morreu aos 79 anos, enquanto Castro, seu grande adversário, estava fora do poder

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Por Agencia Estado
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O veterano dissidente cubano Gustavo Arcos Bergnes - antigo parceiro de Fidel Castro ferido no ataque que lançou a revolução cubana, mas preso anos mais tarde pelo regime castrista - morreu nesta terça-feira, disse uma amiga próxima da família. Ele tinha 79 anos. Clara Villar, amiga próxima e vizinha da família Arcos, e uma mulher que atendeu o telefone no mortuário próximo a sua casa, afirmaram que Arcos morreu em Havana, às 12h40 (Brasília) desta terça. A causa exata da morte é desconhecida, mas Arcos havia sido hospitalizado recentemente devido a problemas respiratórios e renais. Ele será cremado e nenhum serviço memorial foi agendado imediatamente, afirmou a mulher no mortuário. Arcos morreu enquanto Castro, seu grande adversário, estava fora do poder depois de ceder temporariamente a presidência na semana passada a seu irmão Raul Castro, após uma cirurgia intestinal. Com sua própria saúde enfraquecendo, Arcos disse à Associated Press em entrevista de maio de 2005 que temia não viver para ver uma democracia aos moldes ocidentais criar raízes em seu país de origem. "Eu espero ver o fim disso, mas não tenho certeza se poderei". Encontro com Fidel Arcos nasceu em 19 de dezembro de 1926 em uma cidadezinha do centro de Cuba, chamada Caibarien, e estudava diplomacia na Universidade de Havana quando se encontrou com Fidel pela primeira vez. Forte opositor da ditadura de Fulgencio Batista, Arcos se uniu a Fidel, em 1953, no falido assalto ao quartel de Moncada, uma fortaleza militar no leste cubano. Ferido nos quadris, ficou prejudicado por toda sua vida. Posteriormente, e junto a seus amigos rebeldes, viajou ao México, onde foi formada a coluna guerrilheira que voltaria à ilha para iniciar a Revolução. Conhecido pelo pseudônimo de "Ulises", viajou por Costa Rica, Venezuela e Estados Unidos arrecadando dinheiro e munições para o movimento revolucionário. Ao mesmo tempo, outros de seus correligionários subiam a bordo do legendário iate Granma e desembarcavam na ilha. Seu irmão Luis foi morto pelas forças de Batista. Com o triunfo da Revolução, foi nomeado embaixador da Bélgica, mas pouco a pouco foi se desiludindo com o sistema implantado por seus antigos amigos. "Eles mataram muita gente", disse à AP em 2005 sobre as ações sumárias realizadas após a tomada do poder pelos revolucionários. "Eles mataram pessoas que poderiam ser facilmente presas". Arcos começou a expressar seu descontentamento e foi logo acusado de ser um contra-revolucionário. Quando foi solto, depois de três anos na prisão, o governo recusou seu pedido para sair do país. Em 1978, junto a seu outro irmão Sebastián, fundou o Comitê Cubano Pró-Direitos Humanos, o primeiro grupo de dissidentes internos criado depois do triunfo revolucionário. "Eles me responderam com a prisão, estive dois anos preso daquela vez", afirmou em 2005 ao ser entrevistado pela AP. No total, Arcos passou mais de uma década no cárcere. Vivia atualmente em Havana acompanhado da mulher Teresa e de vários pássaros.

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