Morte de Kirchner abre disputa sobre liderança do peronismo

Néstor Kirchner era presidente e principal líder do partido; para deputado, liderança ficará com Cristina.

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Por Marcia Carmo
Atualização:

Néstor Kirchner era o principal líder do partido peronista A morte do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, nesta quarta-feira, abriu a discussão sobre a sucessão no maior partido político do país, o Partido Justicialista (PJ, peronista), do qual era o presidente e principal líder. O falecimento de Kirchner, marido da atual presidente, Cristina Fernández de Kirchner, levou políticos da legenda a recordarem o casal de fundadores do peronismo, o ex-presidente Juan Domingo Perón e a ex-primeira dama Evita Perón. "O peronismo vinha, na prática, deixando de ser só kirchnerista. Mas com a morte de Kirchner, surge um vazio na principal agremiação política do país", disse o analista da TV C5N Marcelo Longobardi. Ouvidos pela BBC Brasil, os analistas políticos Graciela Romer, do instituto Romer e Associados, e Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, deram opiniões diferentes sobre o que poderá ocorrer daqui para frente. "Cristina Kirchner continuará contando com o apoio de um setor do peronismo, mas se quiser ampliar esta base deverá abrir o diálogo e seguir um caminho próprio e não o traçado pelo marido", disse Romer. Para Fraga, o peronismo vinha "se afastando" de Kirchner. Ele observa que no último comício do qual o presidente participou, ao lado de setores do sindicalismo, compareceram apenas cinco dos mais de dez governadores peronistas. "O apoio dos setores do peronismo a ele já não era o mesmo de antes", afirmou. Perón e Evita Num comunicado, o vice-presidente do partido, o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, destacou que o ex-presidente teve um "compromisso com as bandeiras históricas de Perón e de Evita". Especulou-se que Scioli, por hierarquia, assumiria a presidência do PJ. No entanto, o deputado e procurador da legenda, Jorge Landau, disse que "o poder real do peronismo" ficará com a presidente. "Vai ser aqui, neste setor político-partidário, que vamos ter que cumprir um papel institucional para facilitar a gestão do governo e a condução do PJ", disse Landau. O presidente da Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CGT), a maior central sindical do país, Hugo Moyano, disse que "depois de Perón e de Evita ninguém se dedicou tanto à Argentina (como Kirchner)" e que sua linha do sindicalismo "apoiará Cristina". A presidente e o ex-presidente entraram para a legenda de Perón e de Evita quando eram estudantes, fazendo parte da chamada Juventude Peronista. Divisões Nos últimos anos, a legenda foi sendo marcada por crises e fragmentações, identificadas com os nomes de seus lideres divididos. O "kirchenerismo" era a linha política de Nestor Kirchner. O "menemismo" surgiu na era do ex-presidente Carlos Menem, que governou o país entre 1989 e 1999. O duhaldismo é a facção, também dentro do peronismo, que acompanha o ex-presidente Eduardo Duhalde, cuja gestão durou apenas entre 2002 e 2003, após a histórica crise de 2001. Duhalde foi quem entregou a faixa presidencial para Néstor Kirchner em 2003 e, nos últimos tempos, era apontado, por analistas, como um de seus mais ferrenhos adversários políticos. Num comunicado, Duhalde disse que a morte deixa as "diferenças" políticas de lado. "Existe um país inteiro, hoje, junto à presidente da nação, sem diferenças, sem egoísmos pessoais e para honrar a institucionalidade da nossa jovem democracia", afirmou Duhalde. Analistas previam, antes da morte de Kirchner, que entre os prováveis candidatos à sucessão de Cristina, no pleito marcado para outubro do ano que vem, estariam os dois ex-presidentes e peronistas. O ex-governador da província de Córdoba José de La Sota, peronista de outra linha do partido, disse que Kirchner foi o "primeiro filho da classe média argentina" a representar o peronismo na Presidência do país. O governo decretou três dias de luto pela morte de Kirchner. Seu velório será realizado nesta sexta, na sede da Presidência do país, a Casa Rosada, em Buenos Aires. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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