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Morte de Suleimani eleva tensão em debate sobre impeachment de Trump no Congresso

Reviravolta dos acontecimentos adiciona novo elemento à batalha envolvendo o julgamento do impeachment de Donald Trump no Senado

Por Nicholas Fandos e Catie Edmondson
Atualização:

WASHINGTON - A abrupta decisão do presidente Donald Trump de matar o alto comandante do Irã afetou a já tensa dinâmica política em torno do impeachment, trazendo assuntos envolvendo guerra e paz para o centro de um debate em ano eleitoral sobre à remoção ou não de Trump da presidência. 

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Com o Congresso se reunindo na segunda-feira, o espectro de uma escalada das hostilidades com o Irã e uma discussão abrasadora sobre as justificativas de Trump para adotar aquela ação dominaram os debates. A inesperada reviravolta dos acontecimentos veio adicionar um novo elemento volátil à batalha envolvendo o julgamento do impeachment de Trump no Senado.

Para os republicanos a morte do general Qasssim Suleimani, líder da Força Quds de elite do Irã, fornece uma nova linha de defesa do presidente, e afirmam que o esforço dos democratas para depor Trump num momento em que o presidente vem lidando com questões de segurança nacional é irresponsável.

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante fala na Casa Branca, em Washington. Foto: Drew Angerer/Getty Images/AFP

“Veja o contraste”, escreveu o deputado republicano Kevin McCarthy, da Califórnia, no Twitter, no domingo. “Enquanto os democratas tentam remover o presidente do cargo, o presidente está focado em remover terroristas da face da terra”.

Os líderes democratas insistem que os dois assuntos não estão relacionados e que os parlamentares estão obrigados a prosseguir com o processo de impeachment e ao mesmo tempo discutirem que medidas tomar com relação ao Irã. No domingo, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em carta dirigida aos deputados democratas, afirmou que a Câmara deve agir rapidamente e votar no final da semana uma resolução limitando o alcance dos poderes do presidente para decidir sobre uma guerra com o Irã.

Muitos da sua base acusaram Trump de ter autorizado o ataque contra o comandante iraniano exatamente para desviar a atenção das acusações que norteiam o processo de impeachment.

“O Congresso tem de cumprir com ambas as nossas responsabilidades constitucionais”, disse o senador democrata Mark Warner, de Virgínia, que preside a Comissão de Inteligência do Senado.

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“Primeiro, proteger o povo americano, e ao mesmo tempo, como governo, o Congresso deve assegurar que os americanos fiquem seguros”, disse ele à NBC, referindo-se ao Irã. “Em segundo lugar, temos de assumir a responsabilidade pelo que noa chega da Câmara e realizar um julgamento pleno e justo”.

Relacionados ou não, face aos rápidos acontecimentos dos últimos dias o Congresso se defrontará simultaneamente nas próximas semanas com duas das suas mais importantes obrigações constitucionais: o poder de destituir o presidente e a análise de assuntos de guerra. O resultado disto deixará clara a disposição do legislativo de colocar em xeque uma presidência expansionista, terá forte influência na luta de Trump pela reeleição.

O momento e a perspectiva do julgamento do impeachment do presidente já eram sombrios. Em algumas votações em dezembro a Câmara votou pela destituição de Trump por abuso de poder e obstrução do Congresso. As acusações tiveram origem na tentativa do presidente de pressionar a Ucrânia para investigar rivais políticos, retendo o pagamento de uma ajuda militar de US$ 400 milhões àquele país.

Nancy Pelosi ainda não enviou as acusações contra Trump para o Senado, esperando dar mais poder de fogo para os senadores democratas à medida que tentam forçar os republicados a concordarem com a convocação de testemunhas da administração e terem acesso a mais documentos. O presidente impediu membros do seu governo de prestar depoimento no inquérito na Câmara e recusou-se a entregar documentos solicitados pelos investigadores que atuam no processo de impeachment, o que resultou na acusação de obstrução.

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Agora a dúvida é se o debate envolvendo o Irã afetará os cálculos dos democratas e dos republicanos que estudam estratégias envolvendo condições e duração de um julgamento. Os democratas dizem que os impulsos que levaram Trump de atacar Suleimani por si sós já são motivos para sua remoção.

“Os assuntos estão relacionados”, afirmou o parlamentar Ro Khanna, da Califórnia, que patrocinou legislação para impedir Trump de lançar algum ataque não autorizado contra o Irã. “Este caso tem o mesmo padrão imprudente de política como a adotada por ele no caso da Ucrânia. Não se trata mais de defender o estado de direito e a Constituição, mas de salvaguardar a segurança e a paz nacionais, porque um presidente que ignora os processos constitucionais é um enorme risco à estabilidade e à paz”.

Os senadores passaram os feriados de final de ano preparando-se para o julgamento do impeachment, um confronto sobre o futuro da presidência de Donald Trump que absorverá os meses de janeiro e fevereiro.

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Parlamentares e assessores próximos de Nancy Pelosi afirmam que ela ainda não decidiu como ou quando enviará o processo para o Senado e que a política externa não deve afetar suas considerações. Pelosi dará sua decisão nesta semana quando os deputados da câmara retomarem suas atividades e depois de ela  manter uma série de reuniões com sua equipe de liderança.

Mas o ataque que matou o general iraniano preocupa muitos deputados. Alguns democratas, afirmando que a ação, não autorizada e ilegal, deixaram claro que pretendem restringir os poderes de Trump de atacar o Irã no futuro. Depois de a Casa Branca enviar ao Congresso, no sábado, um aviso inusitado e totalmente sigiloso sobre o ataque do drone, Pelosi afirmou que isso “levantou dúvidas graves e urgentes” sobre a decisão.

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“O Congresso e eu faremos todo o possível para afirmar nossa autoridade”, declarou à rede ABC, no domingo, o senador e líder democrata Chuck Summer, de Nova York. “Não precisamos deste presidente que desastradamente e impulsivamente nos leva a uma guerra de grandes proporções”.

Mas num claro sinal de que não tem nenhum interesse em consultar o Congresso a respeito das suas medidas ou estratégias de caráter militar, Trump sugeriu no domingo que os legisladores monitorassem a mídia social para entender como ele planeja proceder.

“Estas postagens na mídia servirão de notificação para o Congresso dos Estados Unidos de que caso o Irá ataque qualquer pessoa ou alvo americano, os Estados Unidos rápida e totalmente revidarão, e talvez de maneira desproporcional”, Trump declarou no Twitter. “Esse comunicado legal não é exigido, mas, mesmo assim, é enviado”.

Os senadores devem receber informações completas sobre o ataque da parte de autoridades do governo nas próximas semanas. Uma sessão de informação com todos os membros da Câmara presentes terá ainda de ser marcada, segundo um assessor democratas.

“Como membros do Congresso, nossa primeira responsabilidade é manter a população americana segura”, afirmou Pelosi em carta anunciando uma votação envolvendo poderes do presidente de entrar numa guerra. “Por esta razão, estamos preocupados que o governo tenha decidido essa ação sem consultar o Congresso e sem respeito aos poderes do Congresso de decisão em caso de guerra, o que lhe é garantido pela Constituição”.

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Esse momento vai colidir diretamente com o julgamento do impeachment, um processo que deverá absorver totalmente o Senado, levando outros trabalhos a serem suspensos.

Os líderes democratas insistiram no domingo que o Congresso tem obrigação de transmitir para o país o que considera como acusações graves de crimes e delitos cometidos por autoridade pública contra Trump. E censuraram os republicanos, afirmando que desejam usar a ameaça de guerra para ocultar as irregularidades cometidas pelo presidente.

“É complicado, mas acho que são responsabilidades separadas” afirmou o deputado democrata David Cicillini. “E embora o presidente espere que o processo de impeachment seja relegado enquanto debatemos de que maneira evitar uma guerra com o Irã, nós teremos de debater os dois casos ao mesmo tempo”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO