ESTOCOLMO - Desde o início da pandemia de coronavírus, o governo sueco optou por uma abordagem diferente de outros países europeus e não adotou uma quarentena rígida. Nesta quinta-feira, 7, a Suécia ultrapassou a marca de 3 mil mortos por covid-19, bem mais que os vizinhos da Escandinávia, o que aumentou a pressão por medidas mais duras. Mesmo assim, as autoridades decidiram manter o curso.
“É muito cedo para fazer comparações e tirar conclusões. Mas, quando a pandemia passar, faremos uma análise de todas as decisões tomadas durante a crise”, disse ontem o primeiro-ministro, Stefan Löfven ao jornal Aftonbladets. Mesmo com a pressão, ele descarta a possibilidade de mudar de estratégia. “Nos últimos dois meses, eu fiz 17 coletivas de imprensa e várias entrevistas. Acho que esses números mostram que eu não desvio de rumo.”
Os números da Suécia precisam ser colocados em perspectiva. Se são melhores do que outros países europeus, como Itália, Espanha e França, são muito piores do que os vizinhos do norte da Europa, com os quais os suecos se comparam. Os 3 mil mortos representam 300 óbitos por milhão de habitantes, mais que Dinamarca (89), Noruega (40) e Finlândia (46).
O resultado tão diferente é debitado da conta do governo social-democrata de Löfven, que deu carta branca para o epidemiologista Anders Tegnell seguir um caminho diferente dos outros. Bares e restaurantes ficaram abertos, embora cumprindo algumas restrições.
As universidades fecharam, mas escolas e creches seguiram funcionando. A principal medida foi a proibição de aglomeração de mais de 50 pessoas.
Embora o governo não admita publicamente, a aposta foi na imunidade de rebanho, quando grande parte da população se contamina e cria anticorpos contra o vírus – embora a eficácia dessa estratégia ainda seja duvidosa. Por isso, durante a pandemia, as autoridades fizeram apenas recomendações de prevenção, apelaram para a responsabilidade individual e não adotaram medidas de restrição.
Mas, com as mortes, a pressão cresceu. Em abril, 200 médicos, cientistas e professores assinaram uma petição para que Löfven endurecesse o isolamento social. Setores da oposição dizem que, apesar de não ter havido bloqueio total, a economia sueca será afetada da mesma forma. O Banco Central prevê uma contração de 6,9% a 9.7% do PIB em 2020, na média do resto da Europa.
Desempenho do governo sob vigilância
O Parlamento sueco aprovou uma lei temporária em meados de abril que permitia ao Executivo fechar portos, aeroportos, estações de trem, shopping centers e restaurantes, além de redistribuir materiais e medicamentos sem passar pelos parlamentares, embora a Casa pudesse revogar as medidas em dias posteriores.
A nova lei, vigente até junho, ainda não foi posta em prática. O primeiro-ministro sueco anunciou nesta quinta que pretende criar uma comissão para analisar as decisões tomadas durante a crise. Mas não quer que o grupo comece a funcionar antes que a pandemia seja superada. / Reuters e EFE