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Movimento das Avós da Plaza de Mayo faz 25 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Há um quarto de século a Argentina estava no meio da ditadura militar mais feroz que a América Latina já teve. Os opositores políticos do regime desapareciam sem deixar rastros. Milhares de pessoas se exilavam às pressas. Adolescentes, adultos e velhos eram seqüestrados pelas forças militares e levadas para campos de concentração onde eram torturados e assassinados. Centenas de crianças, aprisionadas junto com seus pais, sumiram. Trinta mil pessoas foram mortas durante o período em que durou a Ditadura, entre 1976 e 1983. No entanto, apesar do cenário de terror implantado pelos militares, um grupo de senhoras não se deixou intimidar. Elas tinham filhos desaparecidos. Além deles, os filhos de seus filhos - seus netos - também haviam sumido. Estas doze avós - que se reuniam na Plaza de Mayo, na frente da Casa Rosada, a sede do governo - decidiram fundar uma organização que se encarregaria de procurar os filhos e netos desaparecidos. Assim, surgiram as "Avós da Plaza de Mayo". As Avós calculam que, no total, 500 crianças teriam sido seqüestradas ou nascido em cativeiro. Os militares tinham maternidades nas quais os partos eram realizados de forma clandestina. Posteriormente, elas eram adotadas por famílias de ex-repressores, muitos dos quais haviam torturado os pais das próprias crianças. No entanto, diversas crianças foram adotadas por famílias de civis, que desconheciam sua tenebrosa origem. Dentro das Forças Armadas, diversos generais consideravam que a devolução das crianças às famílias biológicas era um potencial perigo, já que, quando adultas, poderiam tentar uma vendetta contra os ex-repressores. Um dos genarais, Ramón Camps, afirmava que a "subversão" era hereditária e, portanto, as crianças - filhas de opositores do regime - deveriam ser criadas por famílias com "forte moral cristã". Nestes 25 anos, as Avós conseguiram encontrar 73 crianças desaparecidas. Para detectá-las, possuem uma vasta rede voluntária de informação não só na Argentina, mas também em outros países do Cone Sul. Além disso, depois de anos de trabalho, atualmente contam com um banco de dados de genes, para poder realizar exames de DNA. A presidente das Avós, Estela de Carlotto, tem uma filha desaparecida, que teria dado à luz durante o cativeiro. Segundo as colegas que sobreviveram às torturas, a filha de Carlotto, Laura, teria tido um menino, a quem ela chamou de Guido, em homenagem a seu próprio pai. Até hoje, Carlotto procura este neto, que teria 24 anos e cujo paradeiro é desconhecido. Atualmente, as Avós têm maior protagonismo do que a outra organização que procura os desaparecidos, neste caso, as Mães da Plaza de Mayo. Com um perfil investigativo mais alto, além de manter um discurso político moderado, as Avós foram apresentadas como candidatas ao Prêmio Nobel da Paz, no ano 2000. Ao contrário das Avós, a imagem pública das Mães, no entanto, começou a declinar, especialmente a partir de meados dos anos 90. Anos atrás, aumentaram as divergências dentro das organização pelo fato de sua líder, Hebe de Bonafini, ter começado a apoiar grupos terroristas internacionais, como o ETA e o IRA. Bonafini também causou polêmica ao disparar insultos contra o papa João Paulo II. Discordando dos métodos e da radicalização política de Bonafini, um setor deixou a organização e criou as "Mães-Linha Fundadora". Além das duas organizações, das Mães e das Avós, também surgiu a "Filhos", que reúne os filhos de desaparecidos políticos durante a ditadura. Além das manifestações contra os militares, os filhos também têm uma forte presença em todo tipo de protestos contra o establishment. Os "Filhos" possuem afinidade com o setor das Mães controladas por Bonafini.

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