Em maio de 2011, um movimento espontâneo de espanhóis tomou a Puerta del Sol, centro de Madri. Eram os “indignados”, jovens e adultos que foram às ruas das principais cidades da Espanha para protestar contra a política de austeridade fiscal do governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE, que então jogava ao desemprego milhões de trabalhadores e à rua milhares de famílias atingidas em cheio pela explosão da bolha imobiliária.
Esse movimento hoje responde por um nome: Podemos. Fundado por cientistas políticos e sociais da Universidade Complutense de Madri, o partido soube catalisar a insatisfação da opinião pública com as legendas tradicionais. Desde 2014, leva as cores da bandeira republicana espanhola às mais distantes cidades do país com o objetivo de nacionalizar o movimento, já ancorado em Madri, onde a juíza progressista Manuela Carmena se tornou prefeita graças ao apoio do partido.
Sob a liderança do cientista político Pablo Iglesias, de 37 anos, Podemos é o partido que tem uma posição ideológica mais singular entre os quatro grandes da Espanha: é o único que pode afirmar ser contra a política de austeridade fiscal, adotada pelo PSOE, de Zapatero, e mantida pelo PP, de Mariano Rajoy, atendendo às recomendações da União Europeia.
Não à toa, conquistou seu espaço no cenário político a ponto de tornar-se um fenômeno nas eleições europeias e nas regionais e municipais espanholas de 2015. Foi quando Iglesias, um acadêmico renomado e com passagem por Cambridge, decretou: “É o fim do bipartidarismo”.
“O Podemos é um caso de êxito fulgurante”, diz Arturo Lahera Sánchez, colega de Iglesias na Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade Complutense de Madri. O Podemos faz parte de um grupo de novos movimentos de esquerda que vêm surgindo na Europa e tenta manter uma organização diferente dos partidos tradicionais. Embora tenha estrutura verticalizada e instâncias de reflexão, o Podemos ainda busca manter um grau de engajamento com as bases do movimento dos indignados, que luta pela “regeneração da democracia”.