Mubarak renova gabinete no sétimo dia consecutivo de protestos

Polícia volta às ruas do Cairo; manifestantes prometem protestos com 'milhões' para terça-feira.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Militares deixam manifestantes ir e vir na praça Tahrir O presidente do Egito, Hosni Mubarak, renovou seu gabinete nesta segunda-feira, em meio ao sétimo dia consecutivo de protestos por sua renúncia em várias cidades do país. A principal substituição foi a do ministro do Interior, Habib el-Adly, que manifestantes responsabilizam pelas duras táticas de repressão usadas pela polícia nos protestos. O cargo de El-Adly foi para Mahmoud Wagdy, um policial aposentado. O ministro das Finanças, Youssef Boutros-Ghali, também foi substuído, em meio a preocupações sobre o impacto dos protestos na economia do país. A agência internacional de classificação de risco Moody's reduziu nesta segunda-feira a avaliação da dívida do Egito, justificando o rebaixamento pelo aumento do risco político no país. Boutros-Ghali, foi substituído por Gawdat ElMalt, ex-chefe do escritório central de auditoria do Egito. O governo ordenou ainda que a polícia voltasse à ativa em partes do Cairo nesta segunda-feira, após dias de saques e apreensão pela segurança na cidade. Na sexta-feira passada, policiais tinham sido retirados das ruas após violentos confrontos com manifestantes. As autoridades egípcias informaram que a polícia recebeu ordens de voltar ao trabalho e cooperar com as Forças Armadas, mas ainda não se sabe se os policiais vão voltar para a região central do Cairo, onde têm ocorrido as manifestações mais numerosas. Durante o fim-de-semana, foram registrados saques e incêndios em vários pontos da capital. Moradores de alguns bairros chegaram a montar barricadas e organizar grupos de vigilantes armados para cuidar da segurança. De acordo com o correspondente da BBC no Cairo Jim Muir, a situação na praça central Tahrir, principal ponto de referência dos protestos no país, é calma e os militares no local estão liberando a circulação de pessoas. Em outras áreas da capital egípcia, as ruas estão movimentadas e parece que a situação está voltando ao normal, com alguns policiais voltando a organizar o trânsito. A força policial, que vinha sendo hostilizada pela população desde o início dos protestos, está sendo mantida à distância da população, segundo Muir. Dezenas de milhares de pessoas começaram a se reunir no centro do Cairo já na manhã desta segunda-feira, sétimo dia dos maiores protestos no país em três décadas. Milhares também estão nas ruas de Alexandria, e além disso há manifestações em Mansoura, Damanhour e Suez. Governo e economia Ao renovar seu gabinete, Mubarak não mexeu nas pastas da Defesa ou do Exterior. No fim de semana, Mubarak empossou o chefe de Inteligência egípcio, Omar Suleiman, como vice-presidente - cargo que nunca havia sido ocupado nos 31 anos de seu governo. Já o novo primeiro-ministro será Ahmed Shafiq, que antes ocupava o Ministério da Aviação. A mudança no Ministério das Finanças se deve, segundo analistas, aos temores urgente com a economia. Além do fechamento por vários dias de lojas e empresas egípcias, e da perspectiva de uma greve geral, o turismo do país também foi prejudicado. Estados Unidos, Japão e China estão entre os países que se preparam para retirar seus cidadãos do país. O turismo é um setor vital da economia do Egito, responsável por 5% a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Locais onde têm ocorrido os protestos no Egito Milhões Organizadores das manifestações planejam para terça-feira uma grande manifestação, que já está sendo chamada de "protesto de milhões". Segundo o correspondente da BBC este protesto seria uma tentativa de revigorar o movimento, pois muitos já se perguntam o que fazer se Mubarak permanecer no poder. E já existem sinais de discordâncias na oposição. O prêmio Nobel da Paz e um dos líderes de oposição, Mohamed ElBaradei, foi apontado por grupos opositores para negociar com o governo. Mas um porta-voz da Irmandade Muçulmana, maior movimento de oposição egípcio, formado por fundamentalistas islâmicos, parece rejeitar esta proposta. "O povo não apontou Mohamed ElBaradei como porta-voz deles", disse Mohamed Morsy à BBC. "A Irmandade Muçulmana é mais forte que Mohamed ElBaradei (...). E não concordamos com a indicação dele para representar este movimento, o movimento é representado por ele mesmo e vai formar um comitê." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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