Muçulmanos xiitas celebram feriado religioso em clima tenso

Ritual reflete o crescente poder xiita na região; clérigos sunitas afirmam que Irã está promovendo atividade missionária e isso pode aumentar tensão sectária

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Por Agencia Estado
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Muçulmanos xiitas em todo o Oriente Médio celebram nesta semana o festival religioso Ashura, que está mais politizado do que o normal por causa da violência sectária no Iraque e no Líbano. Os rituais refletirão o crescente poder xiita na região e há grande temor de conflito, em meio a acusações de alguns clérigos sunitas de que o Irã está promovendo atividade missionária. "A situação na região e no mundo está tensa desde o ano passado", disse Khalil Almarzooq, vice-líder do bloco parlamentar Wefaz, maior grupo xiita do Bahrein. "E há tentativas de fora e de dentro de aumentar a tensão sectária, como as declarações de que os xiitas são seguidores do Irã, e isso não faz bem a ninguém", acrescentou. Nas últimas décadas, a Ashura - quando os homens usam chicotes e se cortam para imitar o sofrimento de Hussein, neto do profeta Maomé - vem sendo um termômetro do crescimento do poder político dos xiitas no Líbano, onde o grupo é tradicionalmente pobre e marginalizado. Durante o festival - no 10º dia do mês islâmico de Muharram, na segunda ou na terça-feira - os xiitas relembram a morte de Hussein e dos seus seguidores em Kerbala, no atual Iraque, no ano de 680 d.C., em batalha com o exército de um império islâmico com base em Damasco. Tradição A tradição xiita considera Hussein e sua família como semideuses e "homens perfeitos", assim como os líderes da nação islâmica ligados ao profeta por laços sanguíneos. Isso provoca disputas há séculos com os muçulmanos sunitas, que dominam a maior parte do Oriente Médio não-iraniano. O trágico fim de Hussein é visto como inspiração em lutas contra a injustiça e o sofrimento de xiitas no Iraque, Líbano, na Arábia Saudita e no Bahrein. O grupo mantém forte ligação com o Irã, que é uma potência xiita não-árabe. A violência sectária vem crescendo no Iraque desde a explosão de um templo xiita em Samarra em 2006 e levou o país à beira de uma guerra civil, já que o poder da minoria sunita durante o regime de Saddam Hussein foi transferido para a maioria xiita. No Líbano, os xiitas estão liderando os atos para tentar derrubar o governo apoiado pelo Ocidente, por muçulmanos sunitas e alguns cristãos. No Golfo, os xiitas da Arábia Saudita e do Bahrein reclamam do tratamento de segunda classe recebido das autoridades sunitas e de clérigos, que chegam a considerá-los hereges. Somente no Kuwait as diferenças sectárias são um tema menos politizado, já que os xiitas - um terço da população de 1 milhão de pessoas - ocupam uma posição influente na sociedade.

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