Mudança de secretário-geral preocupa funcionários da ONU

Nesta segunda-feira, o sul-coreano Ban Ki-moon substitui Kofi Annan

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Por Agencia Estado
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A preocupação está à flor da pele dos funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), que não sabem qual será o seu futuro quando o oitavo secretário-geral da organização, o sul-coreano Ban Ki-moon, assumir amanhã formalmente seu cargo. Na segunda-feira ninguém trabalhará na ONU porque é feriado, e não se espera que Ban anuncie antes de meados de janeiro quais funcionários formarão sua equipe e quais serão os chefes dos departamentos do organismo. Dessas nomeações depende o futuro a curto prazo de muitos dos 16 mil funcionários das Nações Unidas. A maioria assinala que a decisão em última instância não é de Ban, mas sim das cinco potências da ONU, como foi comprovado durante os dez anos de exercício do seu antecessor, Kofi Annan. Para a maior parte das decisões mais importantes, Annan teve que contar com o consentimento dos grandes do Conselho de Segurança - EUA, Reino Unido, França, Rússia e China - os únicos que têm direito ao veto no principal órgão de decisão, do qual são membros permanentes. Um exemplo foi o processo de eleição de Ban, no qual as negociações que teve com os países que aspiram a postos privilegiados no secretariado geral foram determinantes. O procedimento foi comparado por alguns diplomatas com "a divisão da África no século XIX pelos Estados europeus". Para decisões que são relativas à estrutura e às mudanças da organização, Ban também não terá liberdade, pois precisa do apoio dos 192 países da Assembléia Geral, que fazem suas escolhas entre o conjunto de funcionários das Nações Unidas. O novo secretário-geral deu a entender que a reforma da ONU e especialmente da gestão administrativa será uma de suas prioridades, mas todos se perguntam o que ele realmente poderá conseguir. A meta é incorporar a cultura empresarial do setor privado à ONU, o que significa acabar com a ineficácia, eliminar as práticas excessivamente burocráticas e promover a transparência nos diferentes departamentos. Embora não seja uma tarefa fácil, Ban se mostra otimista e afirmou que não a considera uma "missão impossível". Desafios O mesmo pensava Annan, que conhecia bem o organograma da instituição, pois fazia parte de suas fileiras desde 1962. No entanto, nunca conseguiu impor sua ambiciosa agenda de reformas. A reforma administrativa para tirar da Assembléia Geral as decisões que afetam o secretariado perdeu importância por causa da imposição dos países em desenvolvimento, que provocou uma maior ruptura entre o Norte e o Sul. Os países em desenvolvimento consideraram que o objetivo era retirar poder da Assembléia Geral, que é o único órgão no qual estão plenamente representados, o que explica sua rejeição à reforma. São muitos os que dizem que a ONU deve se renovar imediatamente, e que deve começar por sua própria sede, que apesar de ser um ícone vanguardista dos anos cinqüenta - quando foi construída - agora sofre de problemas de infra-estrutura. A ONU sobreviveu a conflitos e catástrofes, desde a Guerra Fria até Ruanda passando pelo Oriente Médio e pelo Iraque, e é o maior fórum de representação do mundo. Diplomata de 62 anos, Ban terá a sua disposição US$ 8 bilhões anuais - que é o orçamento anual da organização - para realizar seu projeto.

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