O embaixador José Botafogo Gonçalves, ex-secretário para assuntos de Mercosul no Itamaraty, afirmou ontem que a recente mudança de tom do Brasil com relação à Venezuela no Mercosul representa um importante “passo à frente” na conjuntura regional. Na avaliação dele, no entanto, a diplomacia brasileira demorou para agir e atender aos pedidos de apoio da oposição venezuelana.
Para o diplomata, ex-embaixador brasileiro na Argentina, a nova atitude de Brasília, aliada a Buenos Aires, será fundamental para o futuro do Mercosul e não significa que o bloco esteja abandonando Caracas. O desfecho, com a saída ou não da Venezuela, de qualquer forma, levará o bloco regional a fazer uma autoavaliação de seu sistema. Para ele, esse é um momento propício para isso, uma vez que Brasil e Argentina estão juntos no “mesmo caminho”. “Temos as possibilidades de rever essa relação e provocar uma modernização do Mercosul.”
Segundo ele, quando esteve em Caracas para discutir com o então presidente Hugo Chávez a adesão do país ao Mercosul, quando era o encarregado do bloco no governo Fernando Henrique Cardoso, recebeu como resposta do líder que seu interesse era de participar de um Mercosul político, e não apenas econômico e de tratados comerciais. Isso, lembra Botafogo, não era o que o bloco buscava na época.
“Alba e o discurso socialista são incompatíveis com o Tratado de Assunção (que criou o Mercosul) e a contradição é clara para todos”, disse o embaixador. Ele deu a declaração durante sua exposição na conferência Turbulent Democracies and the International System: Perspectives from Europe, Latin América and the United States, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso e German Marshall Fund of the United States.
Para Botafogo, O Brasil não está “isolando a Venezuela”. Pertencer ao bloco, argumentou, não significa apenas uma decisão de um presidente, no caso, Hugo Chávez. Mais que aceitar o processo de adesão, o país precisa realmente fazer parte do Mercosul, cumprindo suas regras. Na sua avaliação, isso não foi realmente seguido por Caracas ao decidir fazer parte do grupo.
Além disso, para ele, é um pouco tarde para a diplomacia brasileira contribuir para a solução da crise no país vizinho e teria sido mais efetivo quando havia um diálogo em nível presidencial. “Maduro não pode mais resolver o problema diplomaticamente, porque ele não tem mais poder.”