Mudança de tom do Brasil sobre Venezuela é ‘passo à frente’, vê diplomata

José Botafogo Gonçalves avalia que participação de Brasília e Buenos Aires levará o Mercosul a uma ‘autoavaliação’

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Por Renata Tranches
Atualização:

O embaixador José Botafogo Gonçalves, ex-secretário para assuntos de Mercosul no Itamaraty, afirmou ontem que a recente mudança de tom do Brasil com relação à Venezuela no Mercosul representa um importante “passo à frente” na conjuntura regional. Na avaliação dele, no entanto, a diplomacia brasileira demorou para agir e atender aos pedidos de apoio da oposição venezuelana.

Para o diplomata, ex-embaixador brasileiro na Argentina, a nova atitude de Brasília, aliada a Buenos Aires, será fundamental para o futuro do Mercosul e não significa que o bloco esteja abandonando Caracas. O desfecho, com a saída ou não da Venezuela, de qualquer forma, levará o bloco regional a fazer uma autoavaliação de seu sistema. Para ele, esse é um momento propício para isso, uma vez que Brasil e Argentina estão juntos no “mesmo caminho”. “Temos as possibilidades de rever essa relação e provocar uma modernização do Mercosul.”

Grupo de Venezuelanos moradores de Bogotá, na Colômbia, se reuniram no sábado, 3, no Monumento dos Heróis de Bogotá para exigiero referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro Foto: EFE/LEONARDO MUÑOZ

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Segundo ele, quando esteve em Caracas para discutir com o então presidente Hugo Chávez a adesão do país ao Mercosul, quando era o encarregado do bloco no governo Fernando Henrique Cardoso, recebeu como resposta do líder que seu interesse era de participar de um Mercosul político, e não apenas econômico e de tratados comerciais. Isso, lembra Botafogo, não era o que o bloco buscava na época.

“Alba e o discurso socialista são incompatíveis com o Tratado de Assunção (que criou o Mercosul) e a contradição é clara para todos”, disse o embaixador. Ele deu a declaração durante sua exposição na conferência Turbulent Democracies and the International System: Perspectives from Europe, Latin América and the United States, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso e German Marshall Fund of the United States.

Para Botafogo, O Brasil não está “isolando a Venezuela”. Pertencer ao bloco, argumentou, não significa apenas uma decisão de um presidente, no caso, Hugo Chávez. Mais que aceitar o processo de adesão, o país precisa realmente fazer parte do Mercosul, cumprindo suas regras. Na sua avaliação, isso não foi realmente seguido por Caracas ao decidir fazer parte do grupo.

Além disso, para ele, é um pouco tarde para a diplomacia brasileira contribuir para a solução da crise no país vizinho e teria sido mais efetivo quando havia um diálogo em nível presidencial. “Maduro não pode mais resolver o problema diplomaticamente, porque ele não tem mais poder.”