Mugabe desafia Tsvangirai a sair de embaixada

Presidente do Zimbábue afirma que ele não corre risco; opositor pede intervenção de força de paz

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Por Harare
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O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, negou ontem que seu opositor, Morgan Tsvangirai, esteja em risco no país. "Ele está com medo do povo; por isso teve de procurar refúgio na embaixada holandesa, mas para quê?", disse Mugabe, referindo-se ao líder do Movimento pela Mudança Democrática (MMD). "Essas multidões são eleitores que não farão a ele nenhum mal físico, mas sim político, pois votarão contra (o MMD). Ninguém quer matá-lo." As declarações de Mugabe vieram um dia depois de a Embaixada da Holanda em Harare confirmar que Tsvangirai abrigou-se no local no domingo, quando anunciou que abandonaria a campanha para a eleição de sexta-feira. Apesar dos pedidos para adiar o segundo turno, Mugabe disse que o mundo não pode impedir a votação. "O Ocidente pode gritar o quanto quiser", afirmou. "A eleição ocorrerá e os que quiserem reconhecer nossa legitimidade podem fazê-lo; os que não quiserem, que não reconheçam." Mugabe disse estar "aberto ao diálogo", mas só depois do segundo turno. Tsvangirai, que não pediu asilo à Holanda, disse que espera deixar em breve a embaixada. "Asseguraram que já não há ameaças. Assim que me sentir seguro deixarei o prédio", afirmou o opositor. Num artigo escrito para o jornal britânico The Guardian, Tsvangirai pediu que a ONU isole Mugabe e seja enviada uma força de paz internacional ao país. "Precisamos de uma força para proteger o povo", assinalou. George Sibotshiwe, porta-voz do opositor, relatou que Tsvangirai procurou proteção no domingo após receber informações de que soldados estavam a caminho de sua casa. Outra fonte do MMD afirmou que o líder opositor buscou refúgio depois de saber que três de seus guarda-costas tinham sido presos. "Quando você tem soldados vindo na sua direção, você só corre por sua vida", afirmou Sibotshiwe, que fugiu para Angola no início da semana, temendo ser atacado por militantes pró-Mugabe. Ele disse que muitos integrantes do MMD permanecem escondidos e os que ainda estão no país preferem não sair de casa. O número 2 do MMD, Tendai Biti, está detido desde o dia 12, acusado de traição. Organizações de direitos humanos acusam Mugabe pela onda de violência. O MMD afirma que mais de 90 de seus partidários foram mortos por militantes da União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica (Zanu-PF), de Mugabe. Milícias pró-governo e outros grupos armados, como os veteranos da guerra da independência - além do próprio presidente -, já deixaram claro que qualquer um que votasse na oposição no segundo turno correria o risco de ser assassinado. Na semana passada, Mugabe disse que Deus o escolheu para dirigir o país e "só Deus" poderia retirá-lo do poder. O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, e o presidente do Congresso Nacional Africano (CNA), Jacob Zuma, aconselharam o adiamento do segundo turno. O CNA, porém, rejeitou uma intervenção diplomática para solucionar a crise. AP E AFP

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