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Mulher estuprada por policiais é acusada de indecência na Tunísia

Grupos de direitos humanos condenam acusação e temem que outras vítimas de abuso sexual se sintam intimidadas

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Por Redação
Atualização:

TUNIS - Centenas de mulheres protestavam nesta terça-feira, 2, em frente a uma corte de Justiça na Tunísia, indignadas com o fato de uma mulher ter sido estuprada por policiais e depois, ao registrar queixa, acusada de indecência. "Acusar uma vítima de estupro, cometido por policiais, ao invés de protegê-la de possíveis intimidações, destaca as falhas na legislação e no sistema jurídico da Tunísia" afirmou Hassiba Hadj Sahraoui, diretor da Anistia Internacional no norte da África e do Oriente Médio, para a rede CNN.

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O caso teve início no dia 3 de setembro em Túnis, quando três policiais abordaram a mulher e seu noivo, que estavam em um carro, contou o advogado da vítima para a Anistia Internacional. Dois policiais então cometeram o estupro dentro do veículo, enquanto o outro oficial levou o noivo da vítima a um caixa eletrônico para extorqui-lo.

Apenas após a mulher dar queixa e os policiais serem acusados de estupro e extorsão, é que os três disseram ter encontrado o casal em uma "posição imoral" no carro. "Inicialmente o caso chocou a opinião pública uma vez que a mulher foi estuprada por policiais. Mas quando o veredito foi anunciado, ficamos ainda mais chocados já que eles (policiais) tentaram levar o caso para outro lado, ao acusar a vítima", disse à CNN Salah Eddine El Jorshi, da Liga de Direitos Humanos da Tunísia.

O casal foi acusado de "comportamento indecente intencional" e pode ficar até seis meses na prisão. Os dois negaram as acusações. Nesta terça-feira, ocorreu a segunda audiência do caso. A acusação indignou diversos grupos de direitos humanos, como a Liga de Direitos Humanos da Tunísia e a Associação de Mulheres Democráticas, que convocou o protesto.

"Nós tememos que o tratamento dado a essa jovem intimide outras vítimas de abuso sexual de tornarem os casos públicos por terem medo de serem tratadas como acusadas e não vítimas", explicou Sahraoui. 

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