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Mulheres retornam a Jenin, a "cidade proibida"

Por Agencia Estado
Atualização:

As mulheres começaram hoje a retornar ao campo de refugiados de Jenin, a "cidade proibida" que foi alvo do principal ataque israelense na ofensiva contra a Cisjordânia, na qual os palestinos denunciaram que aproximadamente 500 pessoas foram massacradas. As mulheres retornam com a esperança de encontrar os maridos com vida e saber que fim levaram as casas, a maior parte delas destruída pelo Exército de Israel. Elas chegaram a pé, ainda sob toque de recolher, entre a poeira e os escombros pelas estreitas ruas da cidade de Jenin que conduzem ao interior do campo, onde a devastação lembra mais uma área atingida por um terremoto. Jenin é uma cidade "mártir" para os palestinos e um refúgio terrorista na opinião do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon. As mulheres que fugiram há alguns dias tiveram coragem para desafiar os tanques que continuam o assédio contra os escombros e tentam impedir o acesso dos jornalistas. Nimen Amuri tem 23 anos e quer retornar ao campo de refugiados para encontrar a mãe e o marido. "Fugi há seis dias. Minha mãe me obrigou a fazê-lo. Dizia que já estava velha e repetia: ´Você foge! Você foge!´", disse. Amuri chegou ao campo de refugiados sem saber nada sobre o marido desde o segundo dia do ataque, mas disse rezar para que ele apenas tenha sido preso. "Prefiro vê-lo nas mãos do inimigo do que imaginá-lo morto. Em todos esses dias, rezei por ele e por minha mãe. Não sei se ela está viva. Não sei se encontrarei minha casa". A esperança e a dúvida também dominam Abi Amed Karim, de 16 anos. Ela espera encontrar um pouco de comida na cidade. "Não sei nada de minha família desde quatro ou cinco dias atrás. Dormi ao lado de outros 300 refugiados e hoje me disseram que a Cruz Vermelha distribui comida. Saí por causa disso", contou. Mas não é verdade. As equipes de ajuda huminatária puderam entrar apenas para recolher alguns cadáveres na noite de segunda-feira. Quatorze corpos foram localizados e sete foram recuperados, pois os demais estavam sob os escombros. O Exército de Israel, denunciou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, continua impedindo os agentes humanitários de se deslocarem livremente pelo interior do campo. Chivius Moore, motorista de uma ambulância pertencente a uma associação humanitária palestina, mostrou que seu veículo foi baleado por um franco-atirador israelense. O comandante militar israelense Rafi Ladermann disse hoje que "não morreram mais do que 50 palestinos no campo" e que outras cifras denunciadas "não passam de propaganda". Porém, ele mesmo se esqueceu de um cálculo divulgado pelo próprio Exército de Israel, segundo o qual teriam morrido cerca de 100 palestinos em Jenin. Entrar no campo de refugiados de Jenin é como atravessar uma barreira invisível para outra dimensão. A poeira e o cheiro de morte espalham-se por uma paisagem assustadora, com edifícios e casas destruídos e tanques israelenses vigiando todos os cantos. "Se os soldados encontram jornalistas por aqui, eles os prendem", comentou Sunia, de 35 anos, que contou ter visto como uma equipe de televisão francesa foi detida. Dezenas de casas estão caídas uma após a outra, produto de ataques com mísseis lançados por helicópteros e subseqüente demolição por terra. Os vizinhos fugiram correndo e diversas famílias vivem nas casas que ficaram boas. No bairro de Assaraya, um garoto se oferece para ser guia. "Há cinco dias estão na rua os cadáveres de seis pessoas. Também há uma casa cheia de mortos", disse o menino ao propor ser guia do "horrorturismo".

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