Mundo árabe protesta contra Israel

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os protestos árabes contra Israel se intensificaram hoje, com manifestantes entrando em choque com a polícia nas capitais da Jordânia e Egito, enquanto seus líderes buscavam uma forma de desarmar a crise. A manifestação no Egito foi o mais violento dos protestos diários que têm ocorrido desde que Israel assumiu o controle do QG de Yasser Arafat, na sexta-feira. Árabes também saíram às ruas no Líbano, Líbia, Sudão, Iêmen e Síria. Numa manifestação convocada por artistas, intelectuais e políticos de oposição, centenas de pessoas saíram em passeata da Universidade do Cairo em direção à embaixada de Israel, mas foram contidos por tropas de choque da polícia. Os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e cassetetes para forçar os manifestantes a voltar para as proximidades do câmpus. Mais e mais pessoas, a maioria estudantes, engrossaram a manifestação perto da universidade. Alguns jogaram pedras na polícia e foram agredidos com cassetetes. Cerca de 30 manifestantes foram presos. Nove soldados foram feridos a pedradas e 16 manifestantes foram hospitalizados após os confrontos. O impasse nas proximidades do câmpus estendeu-se por sete horas. Num certo momento, a polícia permitiu que o protesto continuasse pacificamente no lado de fora da universidade, mas estudantes tentaram seguir para o centro da cidade, provocando outros confrontos. À noite, estudantes deixaram a área e a polícia desmantelou seus bloqueios. Os manifestantes egípcios exigiam que seu governo feche a embaixada israelense e acusaram os Estados Unidos de darem luz verde a Israel para sua ofensiva, e pediram por um boicote aos produtos americanos. Autoridades egípcias disseram estar considerando declarar o embaixador israelense "persona non grata". Mas dizem que seus laços com Israel oferecem oportunidade de influenciar a política israelense. O líder líbio Muammar Kadafi liderou uma passeata na capital Trípoli, e pediu aos países árabes para abrirem suas fronteiras e permitir que combatentes voluntários árabes ajudem os palestinos. Cerca de 20.000 sudaneses saíram às ruas da capital Cartum, levando cartazes declarando: "Não à paz com os sionistas" e "Não há barganha sobre Jerusalém". No Iêmen, mais de 200 jornalistas concentraram-se em frente da embaixada americana em Sanaa, carregando retratos de Yasser Arafat. Eles entregaram a funcionários da embaixada uma carta acusando os Estados Unidos de tomarem o partido de Israel. Pelo menos quatro protestos ocorreram na Jordânia. Na Universidade da Jordânia, a polícia de choque usou cassetetes para impedir que cerca de 500 irados manifestantes saíssem em passeata do câmpus. Em Zarqa, 27 km a noroeste de Amã, cerca de 3.000 pessoas gritando "Morte a Israel" pediram a declaração de uma jihad, ou guerra santa, contra o Estado judeu. Mais tarde, cerca de 300 manifestantes, a maioria de mulheres, realizaram uma marcha noturna à luz de velas até a embaixada dos EUA em Amã, onde pediram a ajuda do presidente iraquiano, Saddam Hussein. "Amado Saddam, bombardeie Tel Aviv", gritaram os manifestantes em frente a uma barreira de policiais que protegiam a embaixada. Segundo autoridades, a Jordânia considera expulsar o embaixador israelense "se a situação não melhorar". Mas não se pensa em cortar relações diplomáticas com o Estado judeu. A Jordânia e o Egito, os únicos países árabes que assinaram tratados de paz com Israel, retiraram há meses seus embaixadores de Tel Aviv, culpando Israel pela violência que explodiu há 18 meses. Centenas de pessoas participaram de um protesto nos no campo de refugiados de Ein el-Hilweh, nos arredores da cidade sulista libanesa de Sidon, prometendo vingança caso Arafat for morto. Mais de 500 libaneses e palestinos, exigindo que o Egito rompa relações com Israel, tentaram invadir a embaixada egípcia em Beirute, mas foram dispersados por dezenas de policiais. O presidente libanês, Emile Lahoud, atual presidente rotativo da Liga Árabe, denunciou num comunicado o "silêncio internacional" frente às políticas de Sharon e a posição dos EUA, que coloca "no mesmo patamar o ocupante (Israel) e quem resiste à ocupação", os palestinos. Na Arábia Saudita, cujo príncipe herdeiro Abdullah estaria trabalhando com os EUA para conseguir a retirada das tropas israelenses do QG de Arafat, sauditas comuns criticaram o presidente americano, George W. Bush. "A administração dos EUA tem encoberto o terrorismo (de Israel) por 50 anos", disse Soliman al-Obedallah, um empresário de 50 anos. A oficial Agência de Notícias Saudita divulgou que o rei Fahd, durante uma reunião ministerial hoje, condenou Israel e exortou os Estados Unidos, Rússia, União Européia e o Conselho de Segurança da ONU a apoiarem a iniciativa de paz árabe e pressionar Israel para se retirar das terras árabes. O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que está sendo considerada uma cúpula de emergência da organização, seguindo-se à cúpula regular promovida na semana passada, na qual os árabes fizeram um histórico gesto de paz a Israel. No Iraque, o presidente Saddam Hussein exortou os países árabes a adotarem "medidas econômicas" contra Israel e seus apoiadores. Ele não entrou em detalhes, mas o governista Partido Baath pediu num comunicado aos árabes para usarem o petróleo como arma, aparentemente cortando suprimentos ao Ocidente a fim de forçar as potências ocidentais a pressionar Israel. "Se o petróleo não for usado hoje como uma arma na batalha para elevar a honra e dignidade de nossa nação (árabe) e nossa religião e para libertar nossa terra e lugares sagrados contra o sionismo e a América, será uma maldição".

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