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Mundo discute o Afeganistão pós-Taleban

Por Agencia Estado
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Após as tropas oposicionistas da Aliança do Norte terem entrado hoje em Cabul, a comunidade internacional se viu pressionada a cumprir rapidamente uma missão quase impossível: formar no Afeganistão um governo multiétnico que atenda aos interesses do Paquistão, dos EUA e aliados ocidentais, dos vizinhos do Afeganistão que apoiaram a coalizão (Tajiquistão, Usbequistão, etc), da maioria da população afegã, da etnia pashtun e da Aliança do Norte, coalizão integrada basicamente pelos demais grupos étnicos do país (usbeque, tajique e hazara). O presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, disse que Cabul deveria ser desmilitarizada para que não se repitam "as atrocidades do passado", e pediu que uma missão de paz da ONU formada por nações muçulmanas seja enviada a Cabul. Musharraf, falando na Turquia, afirmou que os soldados de paz deveriam controlar a capital até que um governo multiétnico possa ser instalado, e que o Paquistão e a Turquia poderiam participar da missão. O Paquistão não quer ver a Aliança do Norte - com a qual tem uma longa história de hostilidades - tomando o poder no vizinho Afeganistão. Pouco depois das declarações de Musharraf, o ministro do Exterior da Aliança do Norte, Abdullah, disse ter convidado as Nações Unidas a enviar "equipes" a Cabul para ajudar a construir um governo pós-Taleban. O antigo rei afegão Mohamed Zaher Shah, de 87 anos, exilado em Roma, é visto por muitos como uma figura unificadora na criação de um governo de transição. Hoje, o enviado especial norte-americano para o Afeganistão, James Dolbins, reuniu-se com o ex-rei, deposto em 1973. Enquanto os EUA e aliados tentam articular um governo de transição em torno do rei destituído, o ex-presidente do Afeganistão, Burhanuddin Rabbani, deposto pelo Taleben em 1996 e com planos de regressar amanhã a Cabul, disse hoje que o ex-rei "pode voltar ao país somente como um cidadão comum". Rabanni ainda é reconhecido pela ONU como presidente do país. Por sua vez, Zaher se mostrou contrariado com a ocupação de Cabul pela Aliança do Norte. Ele tinha recebido uma promessa no mês passado da aliança anti-Taleban de que seus combatentes não iriam entrar na capital afegã, afirmou Abdul Sattar Sirat, um dos assessores do ex-rei. "Espero que tenham entrado em Cabul apenas para manter a segurança e não para tomar o poder político", afirmou Hamid Sidig, outro assessor. O enviado das Nações Unidas para o Afeganistão, Lakhdar Brahimi, disse no Conselho de Segurança da ONU esperar dar início a negociações entre as facções afegãs para formar um governo de amplas bases "assim que for humanamente possível". Mas ele advertiu que para transformar "um Estado desintegrado e destituído" que se tornou um campo fértil para terroristas num membro responsável da comunidade internacional será preciso o apoio político e financeiro de todas as nações. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu ao vice de Brahimi, Francesc Vendrell, para ir a Cabul assim que houver condições de segurança, e as Nações Unidas estavam se apressando para fazer seu pessoal retornar ao país e enviar ajuda humanitária. O Egito, um dos que insistem em que o governo afegão deve ser escolhido pelo povo do Afeganistão, anunciou apoiar os esforços de Brahimi para conseguir um entendimento entre as facções guerreiras. "Ninguém deveria impor um governo nem ditar a eles o que fazer. Existe uma guerra civil. Os afegãos deveriam resolver eles mesmos seus problemas", disse o ministro do Exterior egípcio, Ahmed Maher. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, afirmou que é preciso que a ONU esteja presente no Afeganistão "assim que for possível" a fim de ajudar a estabelecer uma coalizão estável, de amplas bases. A França também pediu por ações urgentes. "Nada seria mais sério do que ter um período de transição que não seja coordenado, seguro e que não permita a estabilidade", disse o presidente Jacques Chirac, que estava num giro pelo Oriente Médio. O primeiro-ministro libanês, Rafik Hariri, pediu pela proteção dos civis afegãos e exortou a comunidade internacional a projetar "um claro futuro político para o Afeganistão". Ele pediu que seja formado um novo governo que represente "a mais ampla base do povo afegão e ponha fim a mais de 20 anos de sofrimento". Para a Rússia, a tomada de Cabul foi "um importante sucesso das forças de coalizão anti-Taleban" e o aplaude, anunciou o Ministério do Exterior num comunicado. Mas a Rússia rejeitou sugestões dos Estados Unidos e do Paquistão de que talebans moderados possam vir a participar de um futuro governo. O Irã, que tem apoiado e armado a Aliança do Norte, deu início hoje a conversações com o Paquistão sobre segurança na fronteira comum. Anteriormente, Islamabad apoiava o Taleban, mas agora tornou-se um aliado-chave dos EUA em sua campanha contra o terrorismo. "Nas questões regionais, entre elas o Afeganistão, tentaremos aproximar a visão dos dois países", afirmou o ministro do Interior iraniano, Abdolvahed Mousavi Lari, segundo a oficial Agência de Notícias da República Islâmica. Leia o especial

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