Mundo registra temperaturas mais altas dos últimos 2 mil anos, revela estudo

Boa parte da Europa sofre uma segunda onda de calor em menos de um mês

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Por Redação
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PARIS - As temperaturas no mundo nunca subiram tão rapidamente nos últimos 2 mil anos quanto agora, de acordo com dados publicados nesta quarta-feira que, segundo especialistas, deveriam calar todos os céticos em relação ao aquecimento global.

Enquanto boa parte da Europa sofre uma segunda onda de calor em menos de um mês, dois estudos diferentes analisam 2 mil anos de tendências da história climática recente do nosso planeta.

Pessoas se refrescam nas fontes do Trocadero, perto da Torre Eiffel, em Paris Foto: BERTRAND GUAY / AFP

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Os pesquisadores usaram dados de temperatura compilados de cerca de 700 indicadores: anéis de crescimento de árvores, núcleos de gelo, sedimentos de lagos e corais, bem como termômetros modernos.

O primeiro estudo, publicado na revista Nature, destaca que durante a "pequena era glacial" (de 1300 a 1850), apesar de ter sido registrado um frio extremo na Europa e nos Estados Unidos durante vários séculos, não ocorreu o mesmo em todo o planeta.

"Quando olhamos para o passado, encontramos fenômenos regionais, mas nenhum em todo o mundo", explica Nathan Steiger da Universidade de Columbia em Nova York. "Por outro lado, atualmente, o aquecimento é global. Agora, 98% do planeta sofreu um aquecimento após a revolução industrial", acrescenta.

Um segundo artigo, no Nature Geoscience, examina a média das variações de temperatura em períodos curtos, de várias décadas. As conclusões são claras: em nenhum momento desde o início da era cristã, as temperaturas subiram tão rapidamente e de maneira tão regular como ao final do século 20.

Este resultado "destaca o caráter extraordinário da mudança climática atual", afirma Raphael Neukom da Universidade de Berna na Suíça, coautor do estudo. 

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Estes estudos "deveriam derrubar definitivamente os argumentos dos céticos da mudança climática que defendem que o aquecimento global observado recentemente se inscreve num ciclo climático natural", destaca Mark Maslin da University College de Londres.

Com os termômetros marcando 40,5°C, temperatura registrada no oeste da Alemanha, o país bateu seu recorde absoluto de calor nesta quarta-feira (24), anunciou o serviço meteorológico alemão (DWD).

"Novo recorde de temperatura na Alemanha! Com 40,5°C, o recorde anterior de 40,3°C (Kitzingen, 5 de julho de 2015) para toda a Alemanha foi batido hoje em Geilenkirchen!", tuitou o DWD.

Nunca foi tão quente em Gilze Rijen, no sul da Holanda, onde o termômetro chegou a 38,8ºC. O último recorde remonta a 1944, com 38,6°C, segundo o Instituto Real Meteorológico Holandês (KNMI).

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A Bélgica, onde o "alerta vermelho" pelo calor foi emitido pela primeira vez, também registrou um recorde histórico, com 38,9°C, em Kleine-Brogel, no nordeste. De acordo com o diretor de previsões do Instituto Real Meteorológico (IRM), David Dehenauw, trata-se da "temperatura mais elevada desde o início das observações em 1833".

Os especialistas alertam para uma nova alta das temperaturas até sexta-feira. Amanhã, deve ser a vez de Paris superar seu recorde de 1947, quando registrou 40,4°C.

Na França, até então na categoria "laranja" para a maioria do território, o nível de alerta pelo calor foi revisto para "vermelho" na parte norte, incluindo a capital.

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"É a primeira vez que isso atinge departamentos do norte do país, com um hábitat, um perfil urbano e populações que não estão acostumadas com temperaturas neste nível", advertiu a ministra da Saúde, Agnès Buzyn.

"Por esse motivo peço que redobrem a atenção", frisou.

Se, desde a canícula histórica de 2003 que deixou cerca de 15.000 mortos, as autoridades francesas insistiam, sobretudo, nos riscos para as pessoas vulneráveis, agora as advertências se dirigem para toda população.

Várias cidades francesas bateram seu recorde absoluto de temperatura nesta terça, em especial no sudoeste.

No Tour de France, os organizadores decidiram autorizar o reabastecimento das equipes de ciclistas desde o "quilômetro zero" (ponto de largada real da etapa), em vez de permitir que aconteça apenas a partir do quilômetro 30 da corrida, como é normalmente.

Em Cofidis, uma geladeira elétrica extra foi instalada para transportar as bolsas de gelo que os competidores pegam para colocar na nuca e se refrescar. Em Groupama-FDJ, seis pessoas estão à disposição para fazer as reposições ao longo da corrida. Quando está menos quente, costumam ser duas.

O Reino Unidos também deve, "provavelmente, bater o recorde de calor de julho, que é de 36,7°C, e tem até a possibilidade de bater o recorde absoluto de 38,5°C", afirma o Met Office.

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Em Londres, a polícia anunciou estar em busca de três pessoas dadas como desaparecidas, depois de se banharem no Tâmisa.

À espera de temperaturas acima de 35ºC, Luxemburgo anunciou hoje que vai declarar alerta vermelho.

A Itália também sofre com a onda de calor, e as autoridades locais elevaram o alerta para nível 3 ("vermelho") em Bolzano, Brescia, Florença, Perúgia e Turim. Outras cidades, incluindo a capital, Roma, devem entrar no alerta vermelho amanhã, quando se prevê um pico de temperatura. / AFP

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