Mursi interrompe viagem à Europa em meio a crise no Egito

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Por EDMUND BLAIR E ALEXANDRA HUDSON
Atualização:

As autoridades de uma cidade egípcia afrouxaram um toque de recolher imposto pelo presidente do país, Mohamed Mursi, que interrompeu uma visita à Europa nesta quarta-feira para lidar com a pior violência desde que assumiu o cargo há sete meses. Mais dois manifestantes foram mortos a tiros antes do amanhecer perto da Praça Tahrir, no centro do Cairo, um dia depois de o chefe do Exército advertir que o Estado estava à beira do colapso se opositores e aliados de Mursi não encerrassem os confrontos de rua. Mais de 50 pessoas foram mortas nos últimos sete dias de manifestações de opositores de Mursi, elevando a preocupação global sobre se o presidente poderá restaurar a estabilidade do país mais populoso do mundo árabe. Mursi impôs um toque de recolher e um estado de emergência em três cidades do Canal de Suez no domingo, mas isso apenas pareceu provocar multidões em uma semana de protestos no segundo aniversário do levante que derrubou Hosni Mubarak. O governador de Ismailia, uma das três cidades do canal, disse nesta quarta-feira que estava afrouxando o toque de recolher, que agora entrará em vigor todas as noites a partir das 2h da manhã, ao invés de 21h. Mursi, falando na Alemanha antes de voltar para o Egito para lidar com a crise, pediu diálogo com opositores, mas não irá se comprometer com a demanda deles de primeiramente incluí-los num governo de unidade. Questionado sobre a proposta, ele disse que o próximo governo deverá ser formado após as eleições parlamentares em abril. O Egito estava a caminho de se tornar "um Estado civil que não é um Estado militar ou um Estado teocrático", disse Mursi. A violência interna forçou Mursi a interromper sua visita à Europa, anunciada como uma oportunidade de promover o Egito como um destino para o investimento estrangeiro. Ele viajou a Berlim, mas cancelou sua ida a Paris e voltou para casa depois de apenas algumas horas na Europa. A chanceler alemã, Angela Merkel, que se reuniu com ele, ecoou o discurso de outros líderes ocidentais que pedem que Mursi dê voz à oposição. "Uma coisa que é importante para nós é que a linha para o diálogo esteja sempre aberta a todas as forças políticas no Egito, que as diferentes forças políticas possam dar a sua contribuição, que os direitos humanos sejam respeitados no Egito e que, naturalmente, a liberdade religiosa possa ser experimentada", disse Merkel em entrevista coletiva conjunta com Mursi. Os críticos de Mursi o acusam de trair o espírito da revolução, mantendo muito poder em suas próprias mãos e de sua Irmandade Muçulmana, o movimento islâmico banido sob o regime de Mubarak que venceu repetidas eleições desde o levante de 2011. Os aliados de Mursi dizem que os manifestantes querem derrubar o primeiro líder democraticamente eleito do país. A agitação atual aprofundou uma crise econômica que viu a libra egípcia tombar nas últimas semanas. Próximo à Praça Tahrir, na manhã desta quarta-feira, dezenas de manifestantes atiraram pedras contra a polícia, que revidou disparando gás lacrimogêneo. Os confrontos foram breves. "Nossa demanda é simplesmente que Mursi vá e deixe o país sozinho. Ele é como Mubarak e sua turma que agora está na prisão", disse Ahmed Mustafa, de 28 anos, um jovem que usava óculos de proteção para proteger os olhos do gás. O político opositor Mohamed ElBaradei pediu uma reunião entre o presidente, ministros, o partido no poder e a oposição para conter a violência, mas também reafirmou a pré-condição da oposição de que Mursi deve, primeiro, se comprometer a buscar um governo de unidade nacional.

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