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Museu guarda acervo das drogas

Peças contam história dos cartéis

Por Renata Miranda e São Paulo
Atualização:

Os quadros de Diego Rivera e Frida Kahlo dificilmente serão encontrados no Museu de Enervantes, na Cidade do México. Em vez de obras de arte, o acervo do museu busca na guerra contra o narcotráfico suas peças para exibição. Ali estão expostas desde amostras das drogas mais consumidas no país até armas banhadas a ouro e cravadas de brilhantes. As peças refletem a cultura do exagero dos chefes dos grandes cartéis mexicanos e são pequenas pistas para desvendar os mistérios do submundo das drogas que tomou conta do México. "O museu se transformou em um santuário da luta militar contra o narcotráfico", disse ao Estado o analista Guillermo Zepeda, coordenador do projeto de Segurança Cidadã do Centro de Pesquisas para o Desenvolvimento. "No entanto, o local não é muito conhecido e ter acesso às instalações da Secretaria de Defesa Nacional não é nada fácil." Inaugurado em 1985 no último andar do prédio do Ministério da Defesa na capital federal, a visita às galerias é restrita a policiais em processo de formação e visitantes selecionados. Lá, os jovens cadetes conhecem desde o uso religioso de alucinógenos em pequenas comunidades até a ascensão das organizações criminosas mais poderosas do mundo. "A maneira mais eficaz de combater o tráfico é entendê-lo melhor", afirmou o capitão Claudio Montane, um dos guias do museu, ao jornal The Guardian. Entre os objetos em exibição está uma pistola Colt coberta por esmeraldas que pertenceu a Joaquín Guzmán Loera, o líder do cartel de Sinaloa e um dos traficantes mais procurados do mundo. A arma está marcada com as iniciais ACF de Armando Carrillo Fuentes, que liderava o cartel Juárez, mas morreu durante uma cirurgia plástica em 1997. Outras peças curiosas são os bilhetes deixados pelos traficantes para os policiais que trabalham em regiões controladas pelos cartéis. "Com todo o respeito, reconheço que é o seu trabalho, mas quero negociar", afirma uma das cartas. "Aqui estão 100 mil pesos (cerca de US$ 7 mil) unilateralmente. Me ligue. Assinado: ?Um amigo?." Para Zepeda, é lamentável que a entrada no museu para o público seja proibida. "Um museu mais acessível permitiria conscientizar o povo da gravidade do problema. Em algumas regiões do país, os traficantes são vistos como heróis populares e isso é uma pena."

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