Musharraf permite volta de ex-premiê exilado ao Paquistão

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Por ZEESHAN HAIDER
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O ex-primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif, tirado do poder pelo presidente Pervez Musharraf, deve regressar ao Paquistão nos próximos dias, afirmaram assessores dele na sexta-feira, depois da assinatura de um acordo para colocar fim ao exílio dele na Arábia Saudita. Não se sabe ainda se Sharif, que Musharraf depôs por meio de um golpe militar em 1999, conseguiria regressar antes de 26 de novembro, término do prazo para a apresentação de candidatos às próximas eleições. Só assim o ex-premiê conseguiria concorrer a uma vaga no Parlamento. Sharif deveria se encontrar com o rei Abdullah, da Arábia Saudita, em Riad a fim de despedir-se antes de voar para Londres, base política do ex-premiê, afirmou um membro do governo saudita. Musharraf, criticado duramente dentro e fora do Paquistão por impor um regime de emergência três semanas atrás, aceitou o retorno de Sharif em meio a contatos com o rei Abdullah, um líder da Liga Muçulmana Paquistanesa. Na passagem de quinta para sexta-feira, a Comunidade Britânica suspendeu o Paquistão do grupo formado majoritariamente por ex-colônias da Grã-Bretanha. A manobra aumenta as pressões feitas sobre Musharraf desde que evocou poderes de emergência para garantir sua permanência no poder. "O Paquistão precisa colocar fim ao estado de emergência, e o general Musharraf precisa livrar-se de seu uniforme para participar das eleições", afirmou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, a repórteres, na sexta-feira, durante uma cúpula da Comunidade Britânica realizada em Campala. "É preciso haver liberdade de imprensa e liberdade para o Poder Judiciário. E é preciso que sejam libertados os presos políticos", acrescentou. "Se isso acontecesse, então o Paquistão deixaria de estar suspenso." Governos de países ocidentais temem que a supressão das regras democráticas fortaleça os militantes islâmicos que ameaçam o Paquistão, um país dotado de um arsenal nuclear. Isolado politicamente, Musharraf realizou uma inesperada visita a Riad na terça-feira, alimentando especulações de que ofereceria um acordo a Sharif, seu antigo inimigo. O ex-premiê foi deportado depois de tentar regressar do exílio em setembro, antes da eleição geral de 8 de janeiro. "Se Deus quiser, ele voltará nos próximos dias", afirmou Raja Zafar-ul-Haq, presidente da Liga Nawaz, conforme é conhecida a facção de Sharif dentro da Liga Muçulmana Paquistanesa. O partido deve reunir-se no sábado para determinar a data do regresso, que deve acontecer dentro de quatro a cinco dias, disse um porta-voz da legenda. Segundo diplomatas, a Arábia Saudita sentia-se desconfortável com a presença de Sharif e desejava ver a situação resolvida. Em 2002, Musharraf promulgou uma regra determinando que o cargo de primeiro-ministro só poderá ser ocupado pela mesma pessoa no máximo duas vezes. A regra impede que Sharif e a ex-primeira-ministro Benazir Bhutto tentem disputar o posto mais uma vez. O presidente paquistanês já começou a suspender o estado de emergência, libertando 5.000 ativistas e advogados da oposição detidos depois do início do regime de exceção. O canal privado de TV ARYone World retomou suas transmissões na sexta-feira depois de ter sido tirado do ar como consequência das medidas adotadas para coibir os meios de comunicação. As ações repressivas, no entanto, continuavam a ser adotadas em Karachi, onde a polícia usou cassetetes para dispersar manifestantes da oposição. Cerca de 50 pessoas foram detidas e várias ficaram feridas, contaram testemunhas. (Com reportagem de Sahar Ahmed e Robert Birsel em Karachi, Augustine Anthony em Islamabad, Andrew Hammond em Riad e Adrian Croft em Campala)

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