O presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, rejeitou qualquer tipo de ultimato sobre o pedido para que ele abandone o cargo de chefe das Forças Armadas. Nesta quinta-feira, 30, a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto deu um prazo até o final desta semana para que ele tome um posicionamento diante da sua oferta de divisão do poder. Pelo acordo, Musharraf renunciaria de seu posto de chefe do Exército. Em troca, o Partido do Povo do Paquistão (PPP), liderado por Bhutto, apoiaria a sua reeleição como presidente por um novo período de cinco anos. "Não se trata de um ultimato. Mas precisamos saber onde estamos", afirmou Bhutto ao jornal britânico The Guardian. Segundo o jornal Financial Times, Bhutto quer voltar para seu país entre setembro e dezembro. Nesta sexta-feira, na capital britânica, o PPP se reúne sob a Presidência da ex-primeira-ministra. Bhutto explicou à BBC que as negociações com Musharraf continuam, e os dois lados "estão de acordo em muitos pontos". Fontes do governo paquistanês disseram na quarta-feira que Musharraf estuda a convocação de uma sessão do Parlamento, no próximo mês, para aprovar várias emendas constitucionais. Uma delas suspenderia a proibição de um primeiro-ministro tentar um terceiro mandato. Isso permitiria a Bhutto disputar as eleições legislativas, depois de 15 de novembro. O também ex-primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif criticou as negociações, acusando Bhutto de "violar claramente" o acordo para a restauração da democracia, que vedava "qualquer pacto com os ditadores militares". Em declarações à imprensa britânica, Sharif se disse frustrado com o suposto apoio dos Estados Unidos a um acordo entre Musharraf e Bhutto. Sharif, deposto em 1999 por um golpe militar liderado pelo general Musharraf, quer retornar ao Paquistão dentro de duas semanas, antes do começo do Ramadã, e começar uma campanha para derrubar o presidente. Na quarta-feira, Musharraf disse que Sharif deve cumprir um acordo que assinou em 2000, comprometendo-se a passar 10 anos no exílio, na Arábia Saudita, para não ser preso no Paquistão. Benazir Bhutto acusou o ex-chefe do governo de não ser um homem de princípios. "O povo do Paquistão sabe que Sharif foi levado com toda a sua família a um palácio na Arábia Saudita. Eu, no entanto, me neguei a assinar um pacto com um ditador militar", disse. Apoio americano O governo americano, aliado de Musharraf, não comentou o possível acordo e se limitou a afirmar que a principal preocupação dos EUA no Paquistão é que as próximas eleições sejam "livres, justas e transparentes". A iniciativa de Musharraf de negociar com Benazir foi tomada por causa das constantes pressões dos EUA para o país ser mais democrático e também se esforçar mais na luta contra a rede terrorista Al-Qaeda. Benazir criticou o governo atual por deixar áreas tribais serem controladas por insurgentes e acusou o serviço de inteligência de proteger e apoiar extremistas. No entanto, foi durante o governo da ex-premiê que o Taleban foi formado com a complacência dos serviços secretos paquistaneses. Musharraf está à frente da liderança do Paquistão desde 1999, quando tomou o poder por meio de um golpe.