Na AL, doutrina de segurança dos EUA deve focar Colômbia

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Por Agencia Estado
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A estratégia de segurança nacional que o presidente George W. Bush anunciou na sexta-feira foi notada, sobretudo, pelas duas importantes novidades que introduz na doutrina militar dos EUA, que balizarão, agora, o planejamento operacional do Pentágono: a defesa do uso preventivo da força, já em fase inicial de teste no Iraque, e a recusa de permitir que a supremacia militar americana venha a ser desafiada por outro país, como aconteceu durante a guerra fria. Para o Brasil e a América Latina, no entanto, os tópicos de maior interesse da nova doutrina estão enunciados em três passagens do documento que são tão importantes pelo que dizem como pelo que omitem. ?No Hemisfério Ocidental, formamos coalizões flexíveis com países que compartilham de nossas prioridades, particularmente o México, Brasil, Canadá, Chile e Colômbia?, afirma Bush. A ausência da Argentina na lista de países importantes para Washington é reveladora da real relevância do status de aliado especial extra-Otan que Washington concedeu à Argentina, com algum estardalhaço, durante o governo Clinton. Ao definir a prioridade de segurança dos EUA na região, a doutrina faz o mesmo exercício de simplificação patente no enunciado do objetivo global que orientará, no futuro, o planejamento militar do Pentágono. ?A doutrina é uma abordagem diferente (das anteriores) porque vê um (único) problema no mundo ? o terrorismo e as armas de destruição em massa ? e constrói uma estratégia a partir disso?, observou ao Washington Post James B. Steinberger, que foi o número dois do Conselho de Segurança de Clinton e hoje dirige o programa internacional da Fundação Brookings, em Washington. ?Não digo que o terrorismo não seja o problema dominante, mas enfrentamos um amplo leque de desafios e é crucial não perdê-los de vista.? Algo parecido ocorre na identificação do inimigo regional. ?Na América Latina, a doutrina também reduz a ameaça à segurança dos EUA a um problema: o narcotráfico, centrado na Colômbia?, disse ao Estado um estudioso em segurança e defesa regional, que falou com a condição de não ser identificado. ?Parte da América Latina confronta conflitos regionais, derivados da violência dos cartéis das drogas e de seus cúmplices?, afirma o documento. ?Esse conflito e o tráfico generalizado de drogas põem em perigo a saúde e a segurança dos EUA?. Na Colômbia, Washington ?reconhece o vínculo entre terrorismo e grupos extremistas que desafiam a segurança do Estado e as atividades do narcotráfico que ajudam a financiar as operações desse grupos?. De interesse especial e imediato para o Brasil, que em menos de dois meses assumirá com os EUA a presidência do processo de negociação do acordo de criação da Área de Livre Comércio da Américas, é a formulação que Bush dá ao ?livre comércio?. Este deixa de ser um conceito simplesmente econômico para converter-se em questão moral. ?O conceito do livre comércio nasce como um princípio moral antes mesmo de se tornar um pilar da economia?, afirma Bush. Sua definição de livre comércio não pode ser criticada por sua complexidade. ?Se você pode produzir algo a que os outros dão valor, você deve ter a possibilidade de vendê-lo a eles. Se outros fabricam algo a que você dá valor, você deveria ser capaz de comprar. Isso é liberdade real para um pessoa ? ou uma nação ? ganhar a vida?, sustenta Bush no documento que é, na verdade, uma compilação de oito discursos que ele fez nos seus 18 meses na Casa Branca. ?Na área de defesa propriamente dita, a iniciativa importante de Bush foi o discurso que ele fez na Academia Militar de West Point, em junho, e não esse documento, que foi feito apenas para satisfazer uma exigência legal?, disse o especialista em segurança.

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