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Na Argentina, derrota em redutos peronistas pressiona Fernández por mudanças

Grande Buenos Aires e as províncias do sul da Patagônia, são vistos com preocupação por setores governistas, que terão de se esforçar para mudar o cenário até às eleições de 14 de novembro

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Por Renato Vasconcelos
Atualização:

A derrota sofrida pela Frente de Todos, coalizão do presidente Alberto Fernández e da vice Cristina Kirchner, nas eleições primárias para o Legislativo da Argentina aumentou a pressão na Casa Rosada por mudanças no governo. 

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Os reveses em bastiões clássicos do peronismo, como a Grande Buenos Aires e as províncias do sul da Patagônia, são vistos com preocupação por setores governistas, que terão de se esforçar para mudar o cenário até às eleições de 14 de novembro. Uma reforma ministerial, avaliam analistas, está na mesa. 

“As chances de que isso [a derrota nas primárias] produza mudanças no gabinete antes de 14 de novembro aumentaram significativamente com esses resultados”, disse Lucas Romero, diretor da consultoria Synopsis Consultores. “Estamos vendo um revés marcante para a coalizão governante em quase todas as províncias."

O presidente argentino, Alberto Fernandez, durante as eleições legislativas primárias. Foto: ESTEBAN COLLAZO / AFP

O cientista político Facundo Galván, da Universidade de Buenos Aires, lembra que no gabinete de Alberto Fernández, convivem facções diferentes do Peronismo.

Há o grupo conhecido como La Cámpora, mais próximo ao que seria um kirchnerismo puro, do qual faz parte Máximo Kirchner, filho de Cristina. Outra parte é o peronismo federal, dos governadores das províncias do interior, que têm seus representantes e também querem uma parte do poder. Por fim, há o peronismo mais de centro, mais moderado, que segue Sergio Massa, presidente da Câmara.

“Ante o resultado eleitoral, que foi muito expressivo em muitos dos distritos, começa um apontar de dedos entre cada um desses grupos, na tentativa de definir quem é o culpado pela derrota”, afirma Galván.

Perdas sentidas

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A coalizão de oposição 'Juntos por el Cambio', apoiada pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), saiu vencedora em distritos tradicionalmente controlados pela esquerda peronista. A vitória mais surpreendente veio na província de Buenos Aires, que tem mais de um terço dos eleitores do país e é o principal bastião do peronismo na Argentina, onde os opositores lideravam por 4,4 pontos porcentuais com 97% dos votos contados.

O 'Juntos' também saiu vencedor em províncias do interior como Entreríos, Santa Fé, Chaco e Corrientes, e em algumas províncias do sul do país, como Santa Cruz, que é o reduto eleitoral dos Kirchner - província natal de Cristina. Em nível nacional, a oposição lidera por duas vezes essa margem na disputa pela Câmara e por quase 16 pontos porcentuais no Senado, segundo o diário La Nación.

A derrota provocou uma reação quase imediata entre os grupos que compõem a base governista, principalmente na tentativa de definir um culpado pelo insucesso nas eleições primárias. O resultado que mais preocupou a Frente de Todos veio da província de Buenos Aires, onde o governador Axel Kicillof é um aliado próximo de Cristina Kirchner. Um fator que pode ter tido impacto nisso, ainda de acordo com Galván, foi o forte papel na definição das listas de pré-candidatos do pleito de domingo.

"Foi exatamente a equipe de Cristina que dispôs que não houvesse listas de concorrência interna na Frente de Todos, ou seja, eles mesmos eliminaram a concorrência interna", explicou o cientista político.

Vice-presidente argentina, Cristina Kirchner durante votonas eleições legislativas primárias, em 12 de setembro. Foto: Walter Diaz / TELAM / AFP

Razões para a derrota

A resposta à pandemia da covid-19, com as medidas restritivas impostas pelo governo foram amplamente criticadas na Argentina. Além disso, um suposto esquema de "vacinação VIP", que teria sido mantido pelo ex-ministro da Saúde teve um peso muito negativo na imagem do governo.

No front econômico, a recessão que se arrasta desde 2018 – que já custou em 2019 a derrota eleitoral do ex-presidente Mauricio Macri, agora agravada pela covid-19– também afeta o atual Executivo.

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O presidente ainda responde por um inquérito que o acusa de violação das restrições sanitárias impostas pelo próprio Executivo, depois de ter vindo a público que Fernández participou da festa de aniversário da primeira-dama, Fabiola Yáñez, em 14 de julho do ano passado, durante a fase rígida da quarentena no país.

A derrota nas primárias não significa ainda uma perda "de fato" para o governo, uma vez que as cadeiras na Câmara e no Senado só entram em disputa em novembro. No entanto, um aspecto quanto a composição da votação chama a atenção. Mesmo com a ameaça da pandemia ainda em curso, as primárias tiveram um comparecimento de aproximadamente 68% do total de eleitores - mais do que o apontado pelas pesquisas prévias./ Com informações de Bloomberg e EFE

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